Em entrevista ao Integrity Magazine, Marcial Macome sublinhou que a RENAMO não luta por cadeiras parlamentares, mas por uma causa maior: a verdade eleitoral e o respeito pelos moçambicanos que morreram no processo eleitoral. “O que está em causa para a RENAMO não são assentos. A RENAMO nunca lutou por assentos. Lutamos por uma causa, e essa causa é muito maior do que os 28 assentos”, enfatizou Macome.
Desde o princípio, a posição do partido foi clara: sem a reposição da verdade eleitoral, os seus deputados não integrarão um processo que consideram ilegítimo. No entanto, agora, a decisão final será tomada após uma auscultação interna e externa, envolvendo as bases do partido e sectores da sociedade, e dos diálogos que estão sendo realizados.
De acordo com Macome, o objectivo da auscultação é compreender o posicionamento da sociedade sobre a actual estratégia do partido. “Estamos ouvindo as nossas bases e a opinião pública para perceber o que deve ser feito. Não será uma decisão exclusivamente do partido, mas sim em conjunto com os nossos apoiantes e a base social que está em reivindicação”, explicou.
O prazo para a decisão está condicionado pelo Estatuto do Deputado, que prevê um limite de 30 dias após a cerimónia de tomada de posse para os ausentes assinarem o termo perante o Presidente da AR. Caso contrário, os mandatos serão declarados vagos e atribuídos aos suplentes.
Macome justificou a ausência na cerimónia de tomada de posse como um gesto de solidariedade às vítimas das irregularidades eleitorais. “Não tomámos posse em respeito às vidas que pereceram na luta pela verdade eleitoral. Não se trata de afins parlamentares, mas de algo muito maior: paz, desenvolvimento e justiça eleitoral”, destacou.
Apesar da postura crítica, Macome afirma que as portas para o diálogo permanecem abertas. “Estamos explorando todas as vias possíveis para alcançar um entendimento que beneficie o país. A decisão de voltar ou não ao parlamento será determinada pelo povo e pela análise dos resultados deste diálogo”, disse.
A posição da RENAMO também afecta os deputados eleitos para as Assembleias Provinciais, cuja tomada de posse está agendada para o dia 20 de Janeiro. Segundo o porta-voz, esses deputados também não tomarão posse, em alinhamento com a estratégia nacional do partido.
Quando questionado sobre o que motivaria a RENAMO a reconsiderar a sua posição, Macome reiterou que a decisão dependerá da opinião pública e da análise da Comissão Política após a auscultação, e dos diálogos em curso. “O que vai determinar o retorno da RENAMO ao parlamento é a vontade do povo, expressa através das nossas bases e da sociedade”, concluiu.
O boicote à cerimónia de tomada de posse já gerou especulações sobre os próximos passos da RENAMO e o impacto no equilíbrio político da X Legislatura. A ausência dos seus deputados na AR reduz o número de cadeiras ocupadas, mas não impede o funcionamento do parlamento, desde que o quórum mínimo de 126 deputados seja garantido.
Entretanto, os próximos dias serão decisivos para determinar se a RENAMO manterá sua posição ou se haverá mudanças significativas resultantes do processo de auscultação ou dos diálogos em curso. A expectativa é que a decisão final seja anunciada antes do término do prazo legal de 30 dias, definido pelo Estatuto do Deputado. (Bendito Nascimento)