No entanto, mesmo enquanto o Presidente proferia o seu discurso de esperança e renovação, a PRM continuava a disparar contra a população, fazendo novas vítimas nas ruas.
Num dos momentos mais críticos do discurso, Chapo reconheceu que as instituições responsáveis por garantir a segurança do povo se tornaram, em muitos casos, os principais violadores da Constituição da República. “Os raptos que tiram a paz das nossas famílias, muitas vezes com a cumplicidade de quem devia proteger-nos, são um ultraje que não vamos tolerar. A justiça não pode ser uma promessa distante”, afirmou, sublinhando que as acções repressivas são inaceitáveis num Estado de Direito.
Enquanto o Presidente pedia um minuto de silêncio pelas vítimas das manifestações e reafirmava o compromisso com a protecção dos cidadãos, relatos emergiram de novas repressões violentas por parte da polícia, com o uso de gás lacrimogéneo e munições contra manifestantes pacíficos. Este ciclo de violência, que já vitimou cerca de 400 pessoas nos últimos meses, continuou a manchar a esperança de mudança que Chapo buscava incutir.
O novo Presidente anunciou medidas para transformar a PRM e o SERNIC em instituições alinhadas com os valores de justiça e respeito pelos direitos humanos. Entre as acções prometidas estão a criar um Serviço de Assuntos Internos, supervisionado por civis, para investigar condutas abusivas, e o reforço da capacitação e ética dos agentes de segurança. “Reforçaremos as instituições responsáveis pela investigação de crimes, como o SERNIC e a PRM, alocando mais recursos, equipamentos modernos e pessoal qualificado”, afirmou.
No entanto, as promessas de reforma são colocadas à prova pelas acções das próprias forças de segurança, que parecem ignorar a mensagem de mudança e continuam a agir com violência desmedida.
A brutalidade policial durante as manifestações de hoje lança dúvidas sobre a capacidade do governo em implementar as mudanças necessárias e controlar uma força que, ao invés de proteger, aterroriza os cidadãos.
Daniel Chapo encerrou o discurso com uma promessa clara: “Cada moçambicano será o maior fiscal deste país, porque esta luta é de todos nós. Juntos, vamos resgatar o patriotismo e o orgulho de sermos moçambicanos.” Mas, para muitos, a realidade nas ruas durante este dia de posse não reflecte ainda essa renovação tão esperada. (INTEGRITY)