De acordo com o Índice de Percepção da Corrupção de 2023, Moçambique ocupa a posição 142 entre 180 países, um reflexo alarmante dessa mentalidade permissiva. A normalização do enriquecimento ilícito prejudica o acesso a serviços básicos, amplia desigualdades sociais e retarda o progresso nacional. Este artigo examina os impactos dessa mentalidade em áreas cruciais como saúde, educação, segurança pública e justiça, propondo soluções para romper com essa lógica perversa.
No sector da saúde, a expressão “O cabrito come onde está amarrado” traduz-se em práticas que comprometem o direito básico à vida. Muitos médicos variadas vezes só atendem pacientes que podem pagar, transformando a incapacidade financeira em uma sentença de negligência. Mulheres enfrentam complicações em dias de parto, ou seja, se a bolsa estourou ou não, isso não interessa aos médicos, até que o cabrito tradicional seja alimentado e mesmo durante o parto, exames essenciais e atenção especial são negados a quem não pode pagar. Além disso, a venda de atestados médicos falsos subverte a integridade do sistema de saúde em Moçambique, priorizando o lucro ao invés da ética.
Na educação, a corrupção é igualmente prejudicial. Na educação, a corrupção manifesta-se de forma alarmante. Professores cobram para aprovar alunos, criando futuros profissionais mal preparados, que carecem do conhecimento necessário para exercer suas funções com competência. Como resultado, surgem médicos recorrendo à internet para realizar diagnósticos, professores sem moral ou autoridade para orientar seus alunos, e líderes que, além de não possuírem a formação adequada, demonstram incapacidade de se comunicar e de representar dignamente a própria nação.
Isso afecta diretamente a qualidade do ensino e a competência dos formados. Casos vergonhosos envolvendo até o Instituto de Bolsas de Estudo (IBE) exemplificam essa falha sistêmica, com estudantes qualificados sendo barrados devido a entraves burocráticos injustificáveis, comprometendo o desenvolvimento intelectual do país.
No Instituto Nacional de Transportes Rodoviários (INATRO), o cenário não é diferente. Motoristas capacitados não conseguem obter sua carta de condução sem pagar subornos sistemáticos, 3000 Meticais, enquanto outros, despreparados, obtêm-na facilmente. Esse ciclo prejudica a segurança viária e reforça desigualdades. A corrupção na polícia e no sistema judiciário aprofunda ainda mais o problema. Crimes graves são perdoados mediante subornos, perpetuando a criminalidade e a insegurança. Além disso, jornalistas e activistas que denunciam irregularidades são perseguidos, em uma clara violação da liberdade de expressão. Esse cenário compromete os pilares democráticos e mina a confiança pública nas instituições.
A situação da polícia de trânsito também é demasiado preocupante. Ao invés de educar motoristas, agentes escondem-se em locais estratégicos ou curvas apenas para aplicar multas e extorquir dinheiro, ignorando o papel crucial de preservar vidas humanas.
Moçambique foi construído com o sangue de heróis que sonharam com um país livre e justo, onde a educação e a paz seriam garantidas a todos. Infelizmente, a corrupção transformou esse sonho em um pesadelo.
A frase “O cabrito come onde está amarrado” tornou-se um símbolo de ganância e exploração, traindo os valores pelos quais tantos lutaram. Que tipo de líderes queremos para o futuro? A mudança é urgente e exige ética, responsabilidade e transparência em todas as esferas. É hora de cada cidadão assumir o compromisso de lutar por um Moçambique mais justo e de membros do governo pararem de olhar-se como cabritos, mas sim como seres humanos conscientes dos malefícios causados á nação Moçambicana devido á sua negligência, num cenário em que até da colonização deportámo-nos há meio século, e livres podemos construir mutuamente um Moçambique Melhor.
Por: António Mugadui