Com uma Bíblia nos braços e diante de jornalistas e apoiantes, Mondlane fez o juramento presidencial, declarando-se “eleito pela genuína vontade do povo moçambicano” e comprometendo-se a trabalhar para transformar Moçambique em uma das maiores nações do mundo.
“Eu, Venâncio Mondlane, presidente eleito pelo povo, não pelo Conselho Constitucional nem pela CNE, mas pela vontade genuína do povo, juro pela minha honra servir a pátria moçambicana e os moçambicanos. Juro pela minha honra respeitar a Constituição e as leis, usar todas as minhas energias físicas, psicológicas, intelectuais e até emocionais em benefício desta terra para, daqui a cinco ou dez anos, ser uma das maiores nações do mundo”, declarou Mondlane, com a mão levantada, em frente às câmeras e aos membros da imprensa presentes.
A chegada de Mondlane à capital foi marcada por grande tensão e tumultos. Momentos antes do seu desembarque (antes das 8 horas), seus apoiantes que se concentravam nas proximidades do aeroporto tentando entrar no recinto, foram dispersados violentamente pela Polícia da República de Moçambique (PRM) com recurso a gás lacrimogéneo e disparos indiscriminados.
A PRM restringiu o acesso ao aeroporto, permitindo a entrada apenas de alguns membros do partido PODEMOS e de alguma imprensa.
Em uma live, por sinal a última feita, Mondlane, havia convocado os seus apoiantes para recepcioná-lo. E, durante sua declaração já no aeroporto, denunciou o que chamou de “genocídio silencioso” e reafirmou mais uma vez a sua rejeição aos resultados eleitorais divulgados pelo Conselho Constitucional.
A margem dessa auto-proclamação, o Conselho Constitucional proclamou Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frelimo, como vencedor das eleições presidenciais de 09 de Outubro, com 65,17% dos votos.
E a tomada de posse do novo presidente está marcada para 15 de janeiro. Mondlane, no entanto, rejeita categoricamente esses resultados, razão pela qual se antecipou na proclamação em respeito a vontade do povo moçambicano, de acordo com as suas falas.
Enquanto Mondlane discursava no aeroporto, outras áreas de Maputo registraram confrontos violentos entre a polícia e os seus apoiantes. Horas depois, no mercado Estrela, no centro da cidade, tiros com balas reais e gás lacrimogéneo foram usados para dispersar seus apoiantes que o celebravam. Uma acção que conta com até agora, duas mortes.
Na ocasião, Mondlane deixou claro que não está disposto a aceitar quaisquer acordos políticos que o afastem da sua luta pelo reconhecimento como presidente eleito. “Eu não estou aqui por nenhum acordo político e nunca aceitarei os resultados divulgados pelo Conselho Constitucional”, afirmou categoricamente.
O regresso de Mondlane, após mais de dois meses no exterior, coincidiu com um encontro entre o actual presidente, Filipe Nyusi, e os líderes dos partidos com assento parlamentar na próxima legislatura. Portanto, um episódio que amplia as incertezas quanto ao futuro político no país.
Com a tomada de posse oficial do novo presidente marcada para o dia 15 de Janeiro, os desdobramentos dessa crise política prometem ser decisivos para o país, sem, no entanto, se saber o desfecho desses episódios, em um país que pode contar com dois presidentes. (Bendito Nascimento)