É também uma carta difícil porque vamos aqui fazer uma crítica generalizada, sendo que nem todo polícia é mau…. Espero, todavia, compreensão dos bons polícias, pois sabemos que a maioria deles infelizmente não têm tido a postura desejada
Internacionalmente, os turistas têm sempre algo de errado contra o nosso país e vezes sem conta o único revés é com relação a atuação dos homens da lei, da ordem e tranquilidade públicas.
Em Moçambique os cargos são atribuídos por afinidades, por confiança política ou mesmo por filiação partidária ou grau de parentesco, com gente bem posicionada de ponto de vista do governo ou algo que o valha.
É justamente por isso que as pessoas, a título de exemplo, o mais supremo líder policial em Moçambique, Bernardo Rafael, tem uma ligação inseparável ao presidente da república Filipe Jacinto Nyusi, há até rumores de haver entre eles alguma ligação familiar.
Aliás, para o ano de 2024, o comandante da polícia, Filipe Nyusi, Florindo Nyusi, Celso Correia, Daniel Chapo, Roque Silva e Egídio Vaz, são algumas das pessoas que levam o meu troféu de piores ditadores ou malfeitores que o país viu e teve que suportar…
Bernardino Rafael, foi o responsável juntamente com a respectiva ordem superior, Nyusi, pelas mortes de centenas de moçambicanos, em dados oficiais, embora de forma não oficial presuma-se que o pico tenha já atingido o milhar.
Neste país, ser polícia, você vira uma espécie de refém dos políticos do partido no poder. É aquela antiga história que Dhlakama contava “se lutarmos agora, a polícia quando chega não pergunta nada, apenas prende a quem é da RENAMO e liberta a quem for da Frelimo”.
Quem duvida disso pode hoje perceber que mesmo marchas, antes do escalar da violência nas manifestações pós-eleitorais, a polícia nunca permitiu manifestações pacíficas.
O comandante geral da polícia, só proferiu em alto e bom tom que a manifestação era um direito constitucional depois de ver a comunidade internacional a pressionar e um número elevado de mortes já confirmado.
Em 2022, quando organizamos a manifestação contra as portagens, fomos detidos, mesmo tendo comunicado previamente as autoridades policiais e municipais, uma experiência que nunca esquecerei (15 manifestantes contra 50 polícias fortemente armados e a força canina).
Características de um bom polícia:
Ø Preparo físico: Ser capaz de correr longas distâncias, nadar, levantar pesos e fazer outras atividades físicas exigentes;
Ø Mentalidade de serviço: Estar disposto a colocar as necessidades dos outros acima das suas próprias;
Ø Habilidade de liderança: Ser capaz de motivar e guiar seus colegas de forma eficaz, tomar decisões rápidas e precisas, e manter a calma em situações de pressão;
Ø Responsabilidade: Assumir responsabilidade por suas ações e seguir os protocolos estabelecidos;
Ø Conhecimento técnico: Conhecer a lei e protocolos policiais;
Ø Perfil ético: Ter disciplina, honestidade, ética, coragem, respeito e empatia;
Ø Habilidades de comunicação: Ser capaz de resolver conflitos e trabalhar em equipe;
Ø Infelizmente a nossa polícia está longe de ter estas quantidades; aqui maior parte dos agentes é aliciada as fileiras devido aos elevados índices de desemprego.
Esta carta não poderá ser enviada sem antes deixar a minha crítica aos agentes da UIR, Comandantes de esquadra ou chefes das operações que ordenaram o assassinato indiscriminado de jovens nas manifestações.
Também vai o meu repúdio as forças em serviço que impiedosamente mataram os detentos fugitivos da B.O.
Particularmente, a minha pior e mais sombria experiência em 2024, foi ter sofrido um atentado contra minha vida dentro de um cemitério em Ressano Garcia, em plena realização de uma cerimônia fúnebre! Nunca esperei tanta maldade da parte de quem devia nos proteger.
As mais sentidas condolências às famílias das vítimas supracitadas que por questões de cunho político-partidário perderam seus entes.
Que futuramente tenhamos uma polícia separada do poder executivo, uma polícia verdadeiramente republicana.
Nota de agradecimento aos poucos profissionais da polícia que fazem o seu trabalho com zelo e amor ao próximo, aos poucos que ousam desobedecer às ordens ilegais.
Clemente Carlos
Jornalista e Activista social
7ª de 15 Cartas
No Ofício da Verdade