Relatórios do Banco Mundial destacam que melhorias na infraestrutura de transporte, como a implementação de sistemas de transporte rápidos (BRT), especialmente na área metropolitana de Maputo, podem reduzir a pobreza, criar empregos e impulsionar o crescimento económico de forma significativa. Em complemento, o Banco de Moçambique reconhece que o sector é um dos pilares da geração de receitas fiscais, dada sua relação directa com o comércio e a movimentação de recursos essenciais.
Por: António Mugadui*
No entanto, as recentes manifestações causadas por tensões políticas têm gerado um impacto significativo no funcionamento deste sector estratégico. A instabilidade política tem resultado na paralisação de infraestruturas críticas, incluindo o transporte de mercadorias e passageiros. Tal cenário afecta diretamente as cadeias de abastecimento, criando rupturas que comprometem o acesso á combustíveis, essencial para a manutenção da actividade económica. A escassez de combustíveis eleva os custos de produção e reduz a oferta de bens, provocando uma desaceleração económica que se reflete em todos os sectores produtivos.
A Confederação das Associações Económicas (CTA) estima que as interrupções no transporte e na logística, causadas por essas manifestações, já geraram prejuízos na ordem de 24,8 mil milhões de meticais. Esses impactos são particularmente severos nas operações bancárias, no comércio e no turismo, sectores intimamente ligados à mobilidade. Como resultado, o Produto Interno Bruto (PIB) de Moçambique sofreu uma contração estimada em 2,2%, um reflexo da desaceleração provocada pela paralisação do transporte e suas implicações econômicas.
A situação é ainda mais crítica nas bombas de combustível, que operam como um elo central na cadeia de abastecimento. Estas têm enfrentado uma queda expressiva no número de clientes, uma vez que transportadores semi-colectivo, responsáveis por uma significativa parcela do consumo, reduziram ou suspenderam suas actividades. A diminuição da procura impacta não apenas as receitas dessas bombas, mas também os parceiros comerciais envolvidos, incluindo fornecedores de produtos e serviços correlatos. Relatos de operadores evidenciam a gravidade do cenário: “A ausência de transportadores semi-colectivo reduziu drasticamente a demanda, comprometendo nossa receita e as contribuições fiscais ao Estado”.
Comparações com períodos de crise anteriores, como a pandemia de COVID-19, oferecem uma perspectiva relevante, embora distinta. Durante o confinamento, a desaceleração foi global e generalizada, com o Banco Mundial estimando uma contração de 3,5% na economia global em 2020. No caso das manifestações actuais, o impacto em Moçambique, embora localizado, apresenta características mais severas e específicas, atingindo particularmente os sectores de transporte e abastecimento. A CTA e outras entidades sugerem que, embora a magnitude das perdas econômicas seja considerável, a persistência dessas interrupções ameaça comprometer ainda mais a já vulnerável economia nacional.
Embora a Constituição da República de Moçambique garanta o direito à liberdade de expressão e manifestação pacífica (artigos 56 e 57), as consequências econômicas das manifestações levantam questões sobre a necessidade de equilíbrio entre o exercício desses direitos e a estabilidade necessária para o desenvolvimento económico. A recuperação do sector de transportes e a mitigação dos impactos das manifestações demandam intervenções políticas e econômicas urgentes, voltadas para a pacificação social e a revitalização das infraestruturas críticas.
Sobre o autor
*António Abílio Mugaduie é um analista social e escritor dedicado à compreensão dos desafios que inquietam a sociedade. Com uma visão crítica e um profundo sentido de justiça, os seus artigos exploram questões fundamentais, como educação, saúde, igualdade de oportunidades e desenvolvimento humano. Mais do que identificar problemas, Mugaduie procura propor soluções práticas e inspiradoras, promovendo o debate e a consciencialização. A sua escrita reflete um compromisso com a transformação social e um desejo genuíno de construir um futuro mais equitativo e inclusivo para todos.