O Esquadrão da Morte é um grupo sanguinário, separado dentro das forças policiais ou militares para cumprir ordens superiores dos mais altos dirigentes deste País, ordens para matar.
Enquanto jornalista que sou, aos meus 36 anos de idade, nunca temi mais a morte que agora 2024/25. Agradeço demasiadamente a Deus por ter transitado ao novo ano em boa saúde, mas o trauma ainda jaze em minha cabeça como uma dívida de renda quando o salário não cai.
Quando era mais jovem, pensava na morte como algo que não me pudesse assustar e a possibilidade de ser mártir dava-me ainda mais ânimo, mas agora sou pai e a percepção é outra.
Eu mesmo cresci sem pai e lembro-me do quão difícil foi chegar aonde cheguei, sob cuidados da minha mãe solteira e irmãos mais velhos, talvez seja, por isso, que muitos se tornaram autênticos lambe-botas da Frelimo.
Crescer sem pai e na pobreza é um processo demasiado difícil e às vezes até desumano. Não desejo isso aos meus filhos e nem a filhos de nenhum moçambicano ou estrangeiro a residir no nosso País, isso não significa, que iremos parar esta luta, a luta continua.
Mas é preciso perceber que a nossa luta não é por nós, é justamente pelos nossos filhos a quem tememos morrer e deixar para trás! Será que os presidentes deste País já pararam para pensar no dano que criam a mandar silenciar um Moçambicano?
Vocês calam um homem, um jornalista, um juiz, um activista, um político ou um advogado, com um simples acto de puxar o gatilho, mas na verdade quem morre é um pai, um filho, um irmão, um amigo, um primo, um professor que na essência era a razão de viver de alguém.
Eu fui a Michafutene, no último adeus de Elvino Dias, vi uma mãe inconsolável a chamar o filho que descia à sepultura:
“Elvino, Elvino, Elvino…”
Elvino negou de responder e na escuridão da sua urna, desceu 1,70 metros abaixo, até que a terra dessa forma se tornou a sua residência adornada de flores e regada de lágrimas de indignação.
Ainda em Michafutene, vi uma viúva, mulher de poucas palavras, no rosto a maquiagem era de dor, de consternação e um sentimento de impotência. Nos olhos o peso e a falta de resposta para duas crianças que choravam a morte do pai.
Pedi um abraço as crianças, mas não sabia o que dizer, apenas dei um abraço apertado e com elas chorei, chorei a morte de um amigo, chorei por ser eu também um combatente em busca da verdade eleitoral, da justiça e activista contra à corrupção e má-governação
Pouco mais de um mês depois deste fatídico acontecimento, fui ao Ressano Garcia, desta vez era o enterro do mano Shottas! Em Ressano. Novamente, vi uma mãe que chorava convulsivamente, tal como a esposa e ambas eram seguradas por outras mulheres para que as trêmulas pernas não as fizessem cair.
Este é o resultado do trabalho de um grupo tão temido e desconhecido, mas cujas acções colocam o nosso País nas estatísticas dos mais perigosos para o exercício da verdade nas suas variadas vertentes: jornalismo, advocacia, magistratura, política, música de intervenção social ou activismo.
Sou em vários círculos de opinião, rotulado como quem busca protagonismo por aproximar as famílias enlutadas em momentos como estes, mas eu me conforto com o versículo que diz:
“Chorai com os que choram…”
Infelizmente, há quem não faz nada e não deixa os outros fazerem, mas acredito que o nosso País precisa de solidariedade para com as famílias enlutadas e é por isso que temos doado um pouco de nós, nesse sentido!
A indagação que mexe comigo é em saber, se os jovens polícias, militares ou agentes do SERNIC, que são operativos desses esquadrões não sabem que a nossa luta é para melhoria da situação socioeconómica, financeira e política na generalidade do nosso País?
Não lutamos por nós, lutamos por Moçambique, vós sois traidores e vendedores da pátria, não existe emprego ou ordem superior que justifique a chacina a que nos têm submetido!
Que legado tereis daqui a 20 ou 30 anos? Quando os donos do esquadrão já não forem nada em Moçambique, na reforma ou mortos, não pensem vocês que essa gente irá se lembrar de vós!
Quando o pesadelo dos filhos do Elvino, do Shottas ou dos demais activistas assombrarem as vossas noites, nesse momento os 500 mil ou os milhões que são pagos, não poderão mais vos proporcionar a tranquilidade da vida honesta da qual abriram a mão.
Quando forem a outra vida após a morte, a vossa alma não tem lugar no paraíso e o tormento, a miséria que submeteram aos filhos das vossas vítimas, também será o estilo de vida dos vossos filhos.
Veja como alguns dirigentes deste País, que não irei aqui mencionar os nomes, veja como eles ou os filhos estão…. É o sangue de Abel a clamar por justiça, Abel, personificado em Carlos Cardoso, Gilles Cistac, Anastácio Matável, Siba-Siba Macuácua, Elvino Dias, Paulo Guambe e tantos outros mortos pelo cano das vossas ordens.
Ainda há, quem está por pagar a conta, quem tiver a sorte de viver verá os resultados da maldição que atraíram para si esses dirigentes!
“Quem fere com espada, com espada será ferido”, no entanto, uma vez fui abordado por um suposto operativo que a todo custo insistia em me ameaçar, revoltado e com a paciência já esgotada, levantei da mesa daquele restaurante, bati com a mão na mesa e gritei:
“Enquanto o vosso trabalho é nos matar, nós lutamos para os teus filhos sentarem numa escola com carteira e para que a sua mãe no mato tenha hospital, estrada e uma vida na terceira idade com dignidade, peguei na minha pasta no meu capacete e fui embora.”
Clemente Carlos
Jornalista e Activista Social
5ª de 15 Cartas
No Ofício da Verdade