A 3ª carta desta série de 15 que são na verdade o prenúncio da investidura do próximo Presidente da República de Moçambique, cujo mérito ou demérito não nos iremos debruçar nesta edição, todavia, estou certo que o nepotismo em Moçambique tem barbas brancas e remonta há décadas de governação do partido no poder – Frelimo.
O nepotismo tem várias desvantagens para o desenvolvimento, pois traz uma sensação aos mais esforçados de que estudar e trabalhar duro não compensa, o que não é verdade, trabalhar e estudar muito sempre foram condimentos fundamentais em sistemas meritocráticos.
Infelizmente, o sistema generalizado em Moçambique é o Nepotismo/favoritismo, vezes sem conta vemos jovens altamente qualificados, alguns saindo das maiores universidades nacionais ou internacionais, a viverem de forma frustrada e sem oportunidades.
Nepotismo (do latim nepos, sobrinho, neto ou descendente) é o termo utilizado para designar o favorecimento de parentes (ou amigos próximos) em detrimento de pessoas mais qualificadas, especialmente no que diz respeito à nomeação ou elevação de cargos.
Originalmente, a palavra aplicava-se exclusivamente ao âmbito das relações do papa com seus parentes (particularmente com o cardeal-sobrinho — (em latim: cardinalis nepos; [1] em italiano: cardinale nipote [2], mas actualmente é utilizado como sinónimo da concessão de privilégios ou cargos a parentes, no funcionalismo público como no sector privado. Distingue-se do favoritismo simples, que não implica relações familiares com o favorecido.
Nepotismo ocorre quando, por exemplo, um funcionário é promovido por ter relações de parentesco com aquele que o promove, havendo pessoas mais qualificadas e mais merecedoras da promoção. Alguns biólogos sustentam que o nepotismo pode ser instintivo. Parentes próximos possuem genes compartilhados e protegê-los seria uma forma de garantir que os genes do próprio indivíduo tenham uma oportunidade a mais de sobreviver.
Um grande nepotista foi Napoleão Bonaparte. Em 1809, três dos seus irmãos eram reis de países ocupados por seu exército.
É uma desvantagem que é exercida sobre alguém que por mais mérito que tenha, não poderá mostrar o seu verdadeiro valor, devido a questões meramente familiares ou de amizade.
Nesta ordem de ideias é impossível o País desenvolver, sob tanta injustiça, na verdade o problema não é o País em si, mas sim, as pessoas que fazem ou deviam fazer o País funcionar.
Podemos, portanto, afirmar que o País é um dos piores em termos de serviços públicos, tanto pelas pesquisas que colocam Moçambique na lista dos mais corruptos, mas também pelas nossas próprias acções no cotidiano, quando somos chamados a fazer uma avaliação e optamos em escolher a pessoa que conhecemos em detrimento da mais qualificada.
Este tipo de comportamento generalizado não será alterado apenas pelo governo é algo que todos temos a obrigação moral ou social de incutir e transmitir às gerações vindouras.
Obviamente, que o governo é o principal ‘stakeholder’ na difusão de mensagens de transformação comportamental ou institucionais, mas várias vezes já tivemos campanhas ineficientes devido à hipocrisia de quem as promoveu.
Exemplo clarividente de campanhas contraproducentes é o STAE e a CNE, que alegam defender eleições justas e transparentes, mas na essência há fortes indícios de serem os mestres da fraude, onde o próprio Conselho Constitucional admitiu tais irregularidades.
Assim, fica o apelo para que qualquer proposta da erradicação do nepotismo seja realista e eficaz, emanando do governo central, às escolas, universidades, que se torne uma pregação nas igrejas e nas mesquitas até abranger a comunidade no seu todo.
São várias as pessoas em Moçambique que têm muito conhecimento a dar à nação, mas por não serem de partido Y ou Z, por não terem familiares que decidem nos recursos humanos que lançam as vagas, acabam no esquecimento e por vezes frustrados na droga ou no álcool.
O País está a normalizar estudar para ter emprego apenas, ou aumento salarial, por isso é que temos técnicos superiores de RH como professores, juristas a trabalhar como administrativos, gestores de empresas como responsáveis do sector de marketing, etc.
Este é o reflexo do silencioso e prejudicial nepotismo, uma bagunça laboral autêntica é o resultado do (primo, tenho uma vaga para ti, mas não é na sua área).
– “Aceito mana, eu só quero trabalhar”.
Não é possível o País se desenvolver nestas condições, dando espaço aos primos, aos amigos, as amantes e familiares no geral.
O espaço é o mais qualificado. O espaço é aquele que reúne todos os critérios solicitados.
Clemente Carlos
Jornalista e Activista Social
3ª de 15 cartas
No ofício da Verdade