Enquanto Kida atribui o incidente a uma rebelião interna, Rafael acusa os manifestantes de terem causado a situação, levantando questões sobre a coordenação e veracidade das informações divulgadas pelas duas figuras do governo.
Em uma declaração proferida às 19h58 do dia 25 de Dezembro, Helena Kida assegurou que a origem da fuga foi exclusivamente interna. Segundo a Ministra, o evento começou no lado da BO, onde um recluso saltou o muro para a Cadeia Central. A partir daí, a agitação propagou-se entre os detentos que estavam no pátio, culminando na rebelião.
“Há alguma informação que dá a indicação de que houve manifestantes do lado de fora, mas não foi essa a situação. A situação foi dentro do estabelecimento penitenciário”, esclareceu. Kida ainda destacou que os reclusos somavam mais de 2.600 e que, no momento, estava em curso a contagem para determinar o número exacto de fugitivos.
Poucos minutos depois, às 20h00, Bernardino Rafael apresentou uma narrativa completamente diferente em conferência de imprensa. O Comandante-Geral afirmou que um grupo de “manifestantes subversivos” aproximou-se da cadeia, criando tumultos e incentivando a fuga dos reclusos. Segundo Rafael, a pressão externa teria causado o desabamento do muro que separa a Cadeia Central da BO, facilitando a evasão de 1.534 detentos.
Rafael foi mais longe ao responsabilizar directamente os manifestantes pelas mortes e ferimentos registrados no confronto. “Lamentamos profundamente as 33 mortes e os 15 feridos resultantes das acções dos manifestantes que incentivaram a fuga violenta”, afirmou. O Comandante concluiu sua intervenção com o slogan do partido Frelimo na campanha eleitoral de 2024: “Vamos trabalhar”.
As declarações divergentes lançam dúvidas sobre a gestão da crise e a coordenação entre as instituições responsáveis. Por que a Ministra da Justiça e o Comandante-Geral apresentam versões tão discrepantes, em um intervalo de apenas dois minutos?
A postura de Bernardino Rafael também pode levantar suspeitas, pois, como chefe da polícia, ele pode não ter competência legal sobre as cadeias, que são responsabilidade do Ministério da Justiça. Ao mesmo tempo, a sua narrativa tenta relacionar a fuga a um suposto movimento de desestabilização ligado aos manifestantes, algo que não foi corroborado por evidências concretas na declaração da Ministra.
O episódio revela não apenas a fragilidade no sistema penitenciário moçambicano, mas também uma possível tentativa de manipulação narrativa para desviar responsabilidades. A politização da situação, especialmente com o uso de slogans partidários em momentos de crise, é um sinal preocupante para a transparência e imparcialidade das instituições.
De salientar que logo após a fuga, foi desencadeada uma operação conjunta entre a polícia e os militares de modo a neutralizar os detentos e devolvê-los às celas. (Bendito Nascimento)