O segundo dia dos protestos desta fase foi marcado por vandalização e saqueamento de produtos diversos em estabelecimentos comerciais de pequeno, médio e grande porte sob olhar impávido de polícias e militares.
Num primeiro momento os “manifestantes”, homens e mulheres, de todas idades, priorizaram produtos alimentares básicos, caso de arroz, carnes, peixe, óleo, farinha, bebidas entre outros artigos. Entretanto o saqueamento saiu de controle e começaram a esvaziar todas as lojas independentemente do tipo de comércio.
No Município da Matola, os mercados dos bairros Matola-Santos, T3 e Patrice Lumumba tiveram todas as lojas, supermercados e armazéns completamente esvaziados depois de terem sido arrombados. A cadeia de supermercados Recheio foi uma das mais atingidas pois em quase todos bairros foi saqueada.
Na Machava-Sede, um armazém de arroz viu o seu portão quebrado pelos manifestantes. Posto isto, uma quantidade não especificada de arroz foi subtraída pelos moradores que chegaram a vender um saco de 25 quilogramas a um valor que varia de 100 a 300 meticais contrariamente aos habituais 1800.
Ainda na Matola os moradores assaltaram os estabelecimentos do “Tio Peixe LDA” onde retiram toneladas de diversos tipos de carne e peixes. A dada altura, por temer a fúria popular, o proprietário do estabelecimento “autorizou” a acção dos cidadãos em troca de não incendiarem a sua loja.
Ao longo da Avenida União Africana, conhecida por estrada velha, o estabelecimento da empresa Maeva, que vende óleo alimentar, produtos de higiene e limpeza, entre outros artigos, não escapou. Os supostos manifestantes subtraíram todos os bens e vandalizaram algumas viaturas da empresa.
No distrito de Boane, na vila municipal, os moradores penduravam-se entre as janelas gradeadas das lojas onde tiravam os bens, entregando os que se encontravam do lado de fora. Ainda neste distrito na zona da Mozal todas as lojas não escaparam, também foram “visitadas”.
Na cidade de Maputo, fora as lojas de produtos alimentares, os estabelecimentos especializados na venda de electrodomésticos não escaparam. Por exemplo, em Maxaquene centenas de pessoas corriam nas ruas do bairro com artigos subtraídos para as suas residências enquanto os donos assistiam sem poder fazer nada.
“Vandalizaram as nossas lojas. Este país está mal, nós todos vamos sair deste país, vamos deixar para moçambicanos”, comentaram os proprietários das lojas assistindo o cenário avassalador. Num outro caso, um empresário de origem asiática vendo o seu armazém assaltado chorou e prometeu baixar os preços caso o seu estabelecimento fosse deixado impune.
Enquanto os proprietários lamentam o sucedido os cidadãos procuram vender e comprar os produtos saqueados ao mínimo preço possível, pois enquanto uns veem uma oportunidade de facturar com a pilhagem outros entendem que é momento de abastecerem suas dispensas para os próximos dias que podem ser mais difíceis. (Ekibal Seda)