Por: Onélio Duarte
Em primeiro lugar, é importante perceber que a violência e os protestos não surgem do nada. A população moçambicana, que já vive com muitas dificuldades, sente-se cada vez mais afastada das instituições democráticas que deveriam representá-la e defender os seus direitos. Quando um grande segmento da população acredita que as suas preocupações não são ouvidas, que os processos eleitorais não são transparentes ou justos, e que a classe política não está comprometida com o bem-estar colectivo, o resultado é a revolta. Infelizmente, a resposta do governo tem sido, até agora, de repressão, o que apenas alimenta ainda mais o ressentimento.
A escalada da violência, com a destruição de bens e pilhagem, é um grito de desespero. As pessoas estão a dizer, de forma clara, que não podem mais confiar no sistema, que as suas vozes não são ouvidas, que as suas necessidades básicas não são atendidas. Não estamos a falar apenas de insatisfação com os resultados eleitorais, mas de um descontentamento muito mais profundo com a falta de oportunidades, a pobreza persistente e a sensação de que as elites políticas e económicas estão distantes da realidade da maioria da população. O perigo desta situação é evidente: se as autoridades não ouvirem o clamor do povo e tomarem medidas reais para responder a essas questões, o país pode ser empurrado para uma espiral de violência que pode culminar numa guerra civil, a segunda na história de Moçambique.
É imperativo que o governo e as instituições responsáveis pela administração do país adoptem uma postura mais empática e receptiva. As autoridades devem entender que, embora a violência não seja a solução, o que está em jogo vai muito além da disputa por um cargo político. O que está em jogo é a própria paz e estabilidade do país. A história de Moçambique, marcada pela devastadora guerra civil dos anos 80 e 90, ensina-nos que a violência pode ter consequências catastróficas e prolongadas. Portanto, é responsabilidade do governo agir de forma a prevenir uma nova escalada de confrontos que poderia ter efeitos destrutivos para todos.
A primeira medida necessária é a transparência. A população exige clareza sobre os processos eleitorais e uma investigação rigorosa sobre quaisquer irregularidades que possam ter ocorrido. A falta de confiança nas instituições eleitorais não pode ser ignorada. Para que a democracia se fortaleça, é crucial que as preocupações legítimas dos cidadãos sejam ouvidas e atendidas.
Além disso, o governo deve intensificar os esforços para resolver as questões estruturais que alimentam a desigualdade e a pobreza em Moçambique. A exclusão social e a falta de acesso a recursos essenciais como educação, saúde e trabalho são factores que tornam a população vulnerável a manipulações políticas e alimentam o desespero que leva à violência.
Em vez de recorrer à repressão e à militarização, as autoridades devem adoptar um diálogo aberto com todos os sectores da sociedade, incluindo a oposição e as organizações da sociedade civil, para buscar soluções pacíficas e inclusivas. A utilização da força só amplia o fosso entre o governo e a população, tornando mais difícil o entendimento e o compromisso com a paz.
Portanto, é hora de as autoridades em Moçambique reflectirem sobre as consequências das suas acções e comprometerem-se com um processo de reconciliação e de reformas profundas. O país não pode dar-se ao luxo de repetir os erros do passado e permitir que a violência destrua o que foi conquistado com tanto esforço. A construção de um Moçambique democrático, justo e pacífico depende da capacidade das instituições de ouvir o povo e agir com sensatez e humanidade. As vozes das ruas não podem ser ignoradas. Elas pedem por mudanças, por justiça e por uma paz duradoura.
Este é o momento de agir. O futuro do país está em jogo, e é necessário que todos, governo e sociedade, façam a sua parte para garantir que a paz prevaleça e que Moçambique nunca mais viva os horrores de uma guerra civil. – Onélio Duarte