A informação foi avançada na abertura da 16ª Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Desertificação, também designada COP16, que decorreu no dia 3 de Dezembro e terminou no dia 13 do corrente mês, na capital da Arabia Saudita, Riade.
De acordo com a ONU cerca de 40% das terras estão degradadas, em todo mundo, o que afecta a vida de 3,2 milhões de pessoas com a perda de produtividade biológica e económica. Isso resulta no aumento de 29% na ocorrência de secas, desde o ano 2000. Informou o presidente recém-eleito da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD) e ministro saudita do Meio Ambiente, Abdulrahman Alfadley.
Segundo explicou as terras degradadas representam maior risco de migração, instabilidade e insegurança para muitas comunidades e elas são uma questão prioritária na COP16, estão se tornando mais frequentes e severas e até 2050, três em cada quatro pessoas em todo o mundo, ou seja cerca de 7,5 bilhões de pessoas, sentirão o impacto da seca.
Em discurso por vídeo, a vice-secretária-geral da ONU, Amina Mohammed, pediu aos delegados da COP16 que façam sua parte e “virem a maré”, concentrando-se em três prioridades, incluindo o fortalecimento da cooperação internacional.
Amina Mohammed disse que também é crucial “intensificar” os esforços de restauração e trabalhar em direcção à “mobilização em massa de financiamento”.
De acordo com ela, “os investimentos acumulados devem totalizar US$ 2,6 trilhões até 2030”. Mohammed sublinhou que o valor equivale ao que o mundo gastou em defesa somente em 2023.
Expansão das secas no mundo requer resposta urgente, alerta ONU
Num dos encontros especialistas ambientais explicaram que nenhum país está imune ao fenómeno climático pelo que necessita de acções urgentes, pois o fenómeno climático já afecta 1,8 bilhão de pessoas e o número tende a aumentar exponencialmente.
Só nos últimos três anos, mais de 30 países declararam estado de emergência devido à seca incluindo nações de alta renda, como Estados Unidos, Canadá e Espanha. A lista inclui ainda Índia, China, África do Sul, Indonésia e Uruguai.
O fenómeno interrompeu o transporte de grãos no rio Reno, afectou o comércio no Canal do Panamá e reduziu a geração Hidroeléctrica no Brasil, onde mais de 60% da electricidade depende da água.
A intempérie tem ressurgido cada vez mais intensa e de forma frequente em todas regiões do mundo. É neste sentido que o secretário executivo da UNCCD, Ibrahim Thiaw, apelida o fenómeno de um “assassino silencioso” e alerta que “nenhum país está imune”.
Para Thiaw, a situação deve piorar até 2050, quando três em cada quatro pessoas no mundo sentirão os efeitos da seca.
Propõe-se a restauração da terra para inverter o cenário
Os números sobre a situação da seca para os próximos anos inquietam especialistas de diferentes áreas de actuação, estes entendem que se assim continuar ameará o bem-estar das próximas gerações e em hipóteses mais radicais extinguir a vida na terra.
É neste sentido que o secretário-executivo da UNCCD, Ibrahim Thiaw, destacou que a restauração da terra é essencial para “nutrir a própria humanidade”. Para ele “a maneira como o solo é administrado hoje determinará directamente o futuro da vida no planeta”.
Partilhando a sua experiência de vida, o especialista contou como o fenómeno tem estado a afectar agricultores, mães e jovens estes que dia-após-dia perdem as suas terras indispensáveis para a sobrevivência junto das respectivas famílias.
De acordo com os dados da UNCCD, nos quatro anos até 2019, terras saudáveis do tamanho da Índia e da Nigéria combinadas foram afectadas pela degradação da terra.
Thiaw explicou que agricultura, pastoreio excessivo, urbanização, mineração, desmatamento e outros factores estão impulsionando esse declínio, agravado pelas mudanças climáticas.
Entretanto enfatizou que o estilo de vida dos afectados tem mudado devido ao impacto que a degradação causa em todos os aspectos da vida. Isso inclui aumento do preço dos mantimentos, sobretaxas inesperadas de energia e pressão sobre as comunidades.
Acções ambiciosas e inclusivas para um futuro sustentável
A conferência global reúne países para estabelecer um novo regime internacional de combate à seca, com foco em estratégias de preparação proactiva e manejo sustentável da terra ao invés de abordagens reactivas e de emergência.
O encontro de dez dias, na capital saudita, constitui um espaço para líderes globais de governos, organizações internacionais, sector privado, académicos, religiosos e sociedade civil se reunirem para discutir as pesquisas mais recentes e traçar um caminho para um futuro sustentável do uso da terra.
Representando organizações da sociedade civil presentes na conferência, Tahanyat Naeem Satti apelou por “acções ambiciosas e inclusivas na COP16”. Para ele, a “participação significativa de mulheres, jovens, povos indígenas, pastores de rebanhos e comunidades locais na tomada de decisões em todos os níveis deve ser institucionalizada”.
A vice-secretária executiva do UNCCD, Andrea Meza, explicou que a seca não é apenas uma questão ambiental, mas também de desenvolvimento e segurança humana, “que exige acção urgente em todos os níveis de governança”.
Refira-se que a seca frequentemente desencadeia um ciclo arrasador de eventos, incluindo ondas de calor, enchentes e conflitos por recursos escassos, como água. A degradação da terra, muitas vezes intensificada por práticas agrícolas insustentáveis, aumenta a vulnerabilidade das comunidades e agrava o subdesenvolvimento. (Ekibal Seda)