O ataque ocorreu por volta das 12h00 e deu-se num momento em que grande parte da população se dedicava às práticas agrícolas, sementeira para a época agrícola de 2024/2025 de modo a abastecerem os seus saleiros depois do último saque que sofreram por parte dos terroristas.
A violência obrigou os residentes a abandonar as suas casas em debandada, carregando bens essenciais e objectos pessoais. Entre os deslocados, muitas crianças e mulheres foram vistas carregando utensílios domésticos na cabeça enquanto fugiam para lugares considerados mais seguros, mesmo que incertos.
Além do impacto humano, o incidente levou à interrupção do trânsito na Estrada Nacional 380, no troço entre Macomia e Awasse, uma via crucial para a circulação de pessoas e mercadorias em Cabo Delgado.
Cabo Delgado enfrenta, de 2017 uma insurgência armada protagonizada por grupos associados ao Estado Islâmico. Os ataques têm sido marcados por episódios de extrema violência que incluem decapitações e morte de civis, pilhagem de recursos, pilhagem de bens populares e destruição de infraestruturas tanto privadas quanto públicas.
O último grande ataque reportado na província ocorreu em maio deste ano, quando cerca de uma centena de insurgentes invadiu a sede distrital de Macomia, saqueando a vila e enfrentando as Forças de Defesa e Segurança de Moçambique (FDS) e militares ruandeses. Os confrontos resultaram em perdas humanas e materiais significativos.
Há que lembrar que no final de Novembro e início de Dezembro de 2024, os grupos insurgentes intensificaram suas actividades em sete distritos de Cabo Delgado, incluindo Muidumbe, Metuge, Mocímboa da Praia e Meluco. Apesar de concentrados em acções de pilhagem, os ataques resultaram numa fatalidade confirmada.
A contínua instabilidade na província rica em recursos naturais não apenas desafia os esforços de segurança, mas também agrava a situação humanitária. Os deslocados de Miangalewa somam-se às centenas de milhares de pessoas que já abandonaram as suas casas desde o início do conflito, enfrentando condições precárias nos centros de acolhimento e comunidades de reassentamento.
Contudo, enquanto o governo moçambicano, com o apoio de forças internacionais, e em especial ruandesas que teve um orçamento aprovado pela União Europeia, tenta conter a insurgência, a população continua a viver sob constante ameaça, sem perspectivas claras de retorno à normalidade, em uma incursão que vai para oito anos. (Bendito Nascimento)