A sua análise faz eco de uma frustração legítima sobre o estado do país e a aparente falta de empatia prática dos líderes mundiais para com os desafios reais enfrentados por milhões de moçambicanos.
O longo domínio da Frelimo e as acusações de corrupção, má gestão dos recursos e repressão de vozes dissidentes têm criado um ambiente de desconfiança e descontentamento. Muitos sentem que a liderança nacional falhou em colocar o interesse do povo acima de interesses partidários.
Neste momento Moçambique enfrenta uma situação complexa, que inclui: O conflito em Cabo Delgado, que continua a causar deslocamentos em massa e violações dos direitos humanos. Disputas pós-eleitorais que ameaçam mergulhar o país em ainda mais instabilidade.
E o clamor popular de mudança, amplificado por movimentos como os liderados por Venâncio Mondlane, reflete a exaustão da população face a um governo percebido como opressor. Este sentimento de insatisfação generalizada pode, de facto, estar criando um ambiente “explosivo”.
A Mensagem do Papa Francisco
A mensagem de paz e reconciliação do Papa é, sem dúvida, nobre e fundamentada nos princípios cristãos de perdão e fraternidade. No entanto, como destaca, pode soar insensível ou desconexa diante de uma realidade onde a liderança do país é acusada de perpetuar injustiças. Requisitos como o perdão das dívidas internacionais ou a criação de fundos globais para combater a fome, embora importantes, não abordam directamente os problemas internos de má governação e exclusão social que afligem Moçambique e os moçambicanos.
E o Conselho Constitucional, como árbitro das disputas eleitorais, está sob intensa pressão para tomar decisões justas e alinhadas com a vontade popular. Caso decida validar resultados que muitos consideram fraudulentos, pode aprofundar a crise e levar ao caos que descreve. Por outro lado, um posicionamento firme e independente poderia ser o primeiro passo para restaurar a confiança nas instituições do Estado.
A terminar, a mensagem do Papa Francisco pode servir como um lembrete de valores universais, mas a realidade moçambicana exige acções mais concretas e urgentes por parte de seus líderes. O desafio é encontrar um equilíbrio entre os apelos à paz e os clamores por justiça. No entanto, a paz só será possível se houver um esforço genuíno para corrigir as desigualdades e garantir que a voz do povo seja ouvida e respeitada.
O futuro de Moçambique depende agora não apenas de palavras, mas de acções concretas de todas as partes envolvidas. (Nando Mabica)