Lumumba abriu a sua intervenção com um agradecimento a Mondlane pela oportunidade de dialogar sobre a situação política moçambicana num momento crítico. “Deixe-me tomar esta oportunidade para agradecer ao meu bom amigo e irmão Mondlane por organizar este encontro. Está a fazê-lo num período em que Moçambique enfrenta grande tumulto. O meu conselho nesta fase é que devemos pensar mais em Moçambique e relegar as nossas ambições pessoais ao interesse nacional”, afirmou.
O jurista, conhecido pela sua defesa das instituições democráticas em África, criticou duramente os recentes episódios de violência e repressão no país. Este, destacou que Moçambique está a atravessar uma crise política agravada por interesses individuais que colocam em risco os princípios fundamentais da democracia.
“Moçambique está a ser destruída porque os indivíduos querem manter o poder de uma forma inconsistente com a Constituição. As pessoas estão a ser espancadas e retiradas das ruas de Maputo e de outras partes do país. Isso é inaceitável”, disse, acrescentando que a repressão não pode substituir o diálogo e o respeito pelos direitos do povo.
Lumumba também traçou um paralelo com outros países africanos que, recentemente, realizaram eleições democráticas e pacíficas, como Botswana, Namíbia e Gana. Este, lamentou que Moçambique, que foi palco de uma luta histórica pela independência, esteja agora a enfrentar um retrocesso nos seus princípios democráticos.
“Tivemos eleições decentes em outros países do continente. É lamentável que a Moçambique de Eduardo Mondlane e Samora Machel esteja a ser destruída, não apenas por desastres naturais como ciclones, mas também pela falta de justiça e respeito pela Constituição”, declarou.
Dirigindo-se directamente ao Presidente Filipe Nyusi, Lumumba apelou para que o líder moçambicano priorize o bem-estar da nação acima de interesses políticos. “Espero que o Presidente Nyusi ouça este apelo. Um líder nunca é bem-sucedido até que o seu sucesso seja construído sobre o respeito pela vontade do povo. O Moçambique pelo qual tanto sangue foi derramado não pode ser destruído novamente, desta vez pelo sangue dos próprios moçambicanos.”
Ainda no seu discurso, o jurista destacou a importância de lideranças patrióticas e corajosas neste momento crítico da história do país. Este incentivou Mondlane a permanecer firme na sua luta por um Moçambique mais justo e democrático, pedindo que se aproxime dos moçambicanos e de figuras influentes no continente para promover a paz. “Use os antigos moçambicanos, use os africanos que amam Moçambique para garantir que a paz seja restaurada. Este é o momento em que os patriotas devem surgir”, apelou.
Mondlane, por sua vez, agradeceu as palavras de apoio de Lumumba e reforçou o seu compromisso com a defesa da democracia em Moçambique.
“Nós gostaríamos de convidá-lo no próximo ano, quando assumirmos o cargo, para estar fisicamente connosco em Moçambique e partilhar a sua sabedoria numa grande assembleia”, disse o candidato presidencial. Lumumba aceitou o convite e comprometeu-se a continuar a acompanhar a situação do país, reforçando que a sua luta é pela justiça e pela preservação da democracia em todo o continente africano.
Contudo, as palavras de PLO Lumumba, conhecidas pela sua profundidade e impacto, ganham ainda mais peso num contexto em que Moçambique enfrenta uma crescente instabilidade política. A repressão contra manifestações, as alegações de fraude eleitoral e o uso de violência contra civis têm sido amplamente criticados, tanto por atores internos quanto pela comunidade internacional. (Bendito Nascimento)