O que começou como um encontro para “ouvir a juventude” transformou-se num campo de batalha verbal entre o Presidente da República e o jornalista Nádio Taimo num encontro organizado por sua excelência, onde convidou o CNJ e alguns jovens. Taimo foi constantemente interrompido e ironizado pelo Chefe de Estado, que parecia mais interessado em desviar o foco das questões críticas.
“O que me preocupa são o número de mortes. Estamos com 101 mortes. Ainda não fizemos levantamento, mas temos uma lista de 10 polícias que também morreram nesses 100 mortos. O governo deveria, no mínimo, pedir desculpas”, declarou Taimo, em meio às provocações do Presidente. As palavras do jornalista ecoaram como um desafio directo, expondo a brutalidade das forças policiais, que, segundo ele, têm recorrido a métodos letais mesmo contra manifestantes desarmados. “Não se combate pessoas com cartazes usando balas verdadeiras”, acusou.
Taimo não poupou críticas ao governo de Nyusi, lembrando as promessas não cumpridas de 3 milhões de empregos e apontando o uso desproporcional da força como uma das causas do crescente descontentamento popular. O jornalista revelou ainda episódios alarmantes, como a execução de civis por agentes à paisana e a interferência directa de autoridades para censurar suas matérias. “Até recebi uma chamada de um assessor pedindo que não publicasse, mas publiquei”, desafiou.
A tensão aumentou quando Taimo questionou a legitimidade dos resultados eleitorais e criticou a comunicação estatal. “Essa verdade eleitoral é que as pessoas desconfiam dos resultados divulgados pelo bispo Matsinhe. Mesmo eu não acredito muito nos resultados”, afirmou, sugerindo que o governo está mais preocupado em proteger sua imagem do que em salvar vidas.
Ao final, antes de ser cortado, Taimo deixou uma mensagem que soou como ultimato: “O governo precisa assumir os erros. Assumir que falhou, pedir desculpas e garantir que as famílias sejam indemnizadas. Só assim podemos começar a reconstruir a paz.” (Bendito Nascimento)