Portanto, um apelo urgente à paz, à reconstrução social e ao consenso político, tendo como foco o futuro do país e a sobrevivência das suas instituições. Uma reflexão que surge no contexto da situação actual do país, as manifestações, manipulação eleitoral, violência policial, violência popular, e diferentes outros males.
Ngoenha compara a situação actual de Moçambique com os momentos mais conturbados da Revolução Francesa, alertando para o risco de um colapso total.
“Estamos a matar-nos, estamos a polarizar a nossa sociedade, estamos a destruir o pouco das infraestruturas que nós temos. Barca diria que destruíram a França, e eu digo que estamos a destruir o pouco ou nada que Moçambique ainda tem, e que é necessário para a sua sobrevivência. Autocarros, tribunais, instituições, escolas, até sedes de partidos.”
Este, sublinha que os partidos políticos, mesmo com todas as suas falhas, são pilares da democracia e não devem ser alvo de destruição, como tem acontecido nos últimos dias no âmbito das manifestações em prol da “verdade eleitoral, com sedes do partido Frelimo vandalizados e até incendiados
O académico reconhece que Moçambique enfrenta desafios estruturais urgentes, mas questiona como avançar sem cair numa espiral de violência, com as pessoas se violentando deliberadamente em nome da defesa de um bem colectivo.
“O drama que nós temos é isto: como continuar com as reformas que são necessárias, como modificar politicamente a nossa sociedade, como alavancar as instituições sociais, sem sussurrar ulteriormente na violência da guerra e da destruição.”
Este, enfatiza que, embora as eleições sejam imperfeitas e frequentemente questionadas, a alternativa, o caos e a violência, não é uma solução viável. Isso poderá abrir outras realidades de diferenciação social, perigando cada vez mais a convivência harmoniosa.
“Se continuarmos com a violência, polarizamos o país e tornará impossível que o país progrida. Será difícil que qualquer governo, independentemente do partido, consiga unir os moçambicanos em torno de um objectivo comum.”
Ngoenha alerta para os riscos de Moçambique seguir o caminho de países como Haiti, República Democrática do Congo e Somália. Com exemplo do Haiti que preciso de polícias estrangeiras para actuar dentro da capital a fim de apaziguar a actuação de gangues.
Descreve como a multiplicação de grupos armados e a interferência de nações vizinhas podem levar à anarquia e à perda de soberania.
“Quando jovens, grupos e algumas quadrilhas fazem lei em bairros, o perigo que nós temos é cair na anarquia. Nenhum país pode sobreviver vendo a anarquia. Isso engendra destruição.”
Ele também levanta preocupações sobre a interferência de países vizinhos como África do Sul, Malawi e outros, que poderiam agir em nome de seus próprios interesses, agravando ainda mais a instabilidade nacional.
Um dos pontos mais preocupantes levantados por Ngoenha é o aumento da polarização social, que ele vê como um obstáculo à união nacional e ao desenvolvimento.
“Estamos a assistir ao renascimento do tribalismo e do racismo. Isso não só dificulta a mobilização de todos os moçambicanos para lutarmos contra a pobreza, mas também pode levar à divisão do país em duas, três ou quatro partes.”
Também, lembra que desde a independência, Moçambique sempre se orgulhou de ser um país uno e indivisível, algo que pode ser colocado em causa, caso a situação ande para posições incontroláveis.
No final de sua mensagem, Severino Ngoenha apresenta um apelo à construção de um “acordo de bravos”, que ele acredita ser essencial para evitar um colapso ainda maior.
“A única vitória comum é a paz de Moçambique, a sua existência e a sua integridade. Precisamos encontrar uma verdade concordada, um compromisso que nos permita sair desta situação turbulenta, confusa e mortífera.”
Para isto, Ngoenha pede inteligência, humildade e grandeza das lideranças nacionais para renunciarem às suas verdades individuais em prol de um bem maior.
“Se é necessário renunciar à minha parte da verdade para uma verdade maior, é nisso que consiste a grandeza de um homem, a grandeza da política e a grandeza de uma sociedade.”
Contudo, Ngoenha reforça que a paz deve ser o pilar de todas as decisões políticas e sociais.
“Sem paz, não haverá luta contra a pobreza, desenvolvimento ou esperança de um futuro melhor. Se destruirmos o pouco que temos, amanhã não saberemos como satisfazer as necessidades da nossa população.” (Bendito Nascimento)