O incidente ocorreu na última quinta-feira, apenas três meses após a inauguração da fábrica pelo Presidente da República Filipe Nyusi. A empresa, que representa um investimento de 100 milhões de dólares americanos, foi projectada para produzir diariamente 100 mil metros quadrados de cerâmica e empregar 1.000 trabalhadores de forma directa e 5.000 indirectamente.
O protesto foi inicialmente motivado por questões laborais, pois os trabalhadores exigiam melhores condições de trabalho, mas, segundo o comunicado oficial da empresa, rapidamente se transformou em vandalismo. Equipamentos foram destruídos, veículos e triciclos a diesel queimados, e trabalhadores agrediram técnicos chineses com barras de ferro. Vídeos que circulam nas redes sociais mostram cenas de saques, incluindo o roubo de alimentos da cozinha da fábrica pelos trabalhadores.
Durante o tumulto, máquinas que operavam com gás natural foram abandonadas sem desligamento, criando um grave risco de explosão. “Os grevistas não perceberam que o gás natural poderia explodir, colocando em risco as imediações da fábrica”, alertou a empresa no comunicado.
Os danos causados à fábrica são significativos e incluem a destruição de equipamentos fundamentais para a produção. A Safira explicou que a manutenção desses equipamentos depende de peças importadas, o que poderá atrasar a recuperação das operações.
Além disso, a fábrica enfrenta dificuldades para escoar os produtos armazenados devido à paralisação das redes logísticas no país, agravada pelos protestos. A queda nas vendas e o excesso de produtos no armazém reflectem o impacto financeiro causado pela instabilidade.
A empresa destacou ainda a competição desleal no mercado nacional, atribuindo parte das dificuldades à ausência de restrições governamentais na importação de revestimentos cerâmicos, que possuem tarifas muito baixas.
A Safira Mozambique Ceramic foi projectada como um marco no sector industrial do país. A primeira pedra foi lançada em abril de 2023 pelo então Governador da Província de Maputo, Júlio Parruque. A fábrica foi oficialmente inaugurada em setembro deste ano pelo Presidente da República, em um evento que celebrou o potencial de impacto socioeconômico da unidade.
O caso da Safira Mozambique Ceramic ocorre em um momento de alta tensão laboral no país, com protestos generalizados em diversos sectores, com maior enfoque para o sector público. Segundo a empresa, os trabalhadores estavam sob “grande pressão mental” e isso contribuiu para o descontentamento que culminou no “acto de vandalismo”.
A falta de diálogo eficaz entre a gestão da empresa e os trabalhadores, agravada pelo contexto nacional de instabilidade, pode ter sido um dos factores que levaram ao desfecho violento.
Até o momento, as autoridades locais e nacionais não emitiram declarações públicas sobre o ocorrido. Não se sabe se os responsáveis pelos danos serão responsabilizados ou se haverá negociações para reverter os prejuízos causados à empresa e ao emprego local.
De lembrar que a quando da sua inauguração, haviam discursos de que com uma produção projectada para abastecer tanto o mercado interno quanto externo, o empreendimento tinha o potencial de se tornar um pilar do desenvolvimento econômico local. (Bendito Nascimento)