O movimento, que tem ganhado força desde as eleições gerais de Outubro, resulta da insatisfação popular com os resultados eleitorais, alegadamente marcados por irregularidades, e está sendo liderado por Venâncio Mondlane, candidato presidencial do partido Podemos.
Em Malhampsene, bairro da cidade da Matola, o dia começou com um incidente envolvendo um autocarro da empresa Lalgy, que foi incendiado pela população. O conflito teve início quando jovens manifestantes abordaram o autocarro, ordenando que os ocupantes (trabalhadores da empresa) descessem. Após o cumprimento da ordem, a situação escalou quando a polícia disparou contra os manifestantes, causando uma reação violenta. Em retaliação, a multidão colocou o autocarro em chamas e bloqueou a estrada com barricadas, criando um clima de caos.
Logo após o incidente, a população de Malhampsene demonstrou um forte descontentamento com a presença policial. A Unidade de Intervenção Rápida (UIR) foi enviada para controlar a situação, mas os confrontos se intensificaram. Os manifestantes incendiaram ainda um posto policial na área.
Além disso, houve registros de intensa violência em outras localidades, como Morrumbala, na Zambézia, onde as vias foram bloqueadas, pneus queimados e comandante distrital da PRM, Valdemiro dos Santos, foi apedrejado, tendo sido internado no hospital local.
Em Nampula, os manifestantes chegaram a vandalizar a sede do partido Frelimo, marcando a destruição como uma das táticas utilizadas nas manifestações. O clima de tensão foi agravado pela constante chuva de tiros e pelo uso excessivo de gás lacrimogéneo pela polícia.
Além dos confrontos directos com a polícia, houve episódios de vandalismo e saques na loja Ziza, localizada no mercado do Zimpeto na cidade de Maputo, onde foi invadida por um grupo de pessoas armadas com paus e martelos. Os invasores saquearam mercadorias e agrediram os funcionários, o que causou pânico generalizado entre os comerciantes e clientes.
Ainda no distrito de Morrumbala, a sede do Partido Frelimo foi destruída pelos manifestantes. A portagem de Namina-Mecuburi, em Nampula, foi vandalizada e tornando-se inoperacional. Em Xai-Xai, Gaza, a sede provincial do partido Frelimo também foi queimada pelos manifestantes.
Também na cidade de Maputo, a população organizou manifestações pacíficas em locais como a Avenida Moçambique e a Avenida 25 de Setembro, onde entoaram o hino nacional em forma pacífica.
Houve também momentos de confraternização durante a paralisação dos veículos no período entre 8hr às 16h, quando diversos cidadãos aproveitaram as ruas para jogar futebol e outros desportos, beber, dançar e cantar.
A violência das manifestações resultou em várias mortes e ferimentos. O porta-voz do Comando Geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), Orlando Mudumane, confirmou a morte de cinco pessoas, além de 22 baleamentos e mais de 100 detenções em diferentes regiões do país. A maioria das mortes ocorreu em Nampula, com quatro óbitos registrados na província, enquanto Maputo Província registrou um caso. As detenções aconteceram principalmente em Tete e Manica, com detidos sendo acusados de envolvimento em actividades violentas.
O uso de balas reais, gás lacrimogéneo e violência por parte da polícia contra os manifestantes gerou uma reação feroz da população. As forças de segurança foram forçadas a recuar em várias localidades, como foi o caso de Malhampsene, onde a população, enfurecida, perseguiu os agentes da PRM, obrigando-os a abandonar o local.
Em Inhambane, a violência policial também se fez sentir, com relatos de gás lacrimogéneo sendo lançado contra estudantes, causando revolta e indignação entre os manifestantes. A situação em Alto-Molocué, na Zambézia, foi ainda mais grave, com a estrada nacional nº 01 sendo bloqueada por um caminhão, dificultando a passagem e agravando a tensão na região.
Com a morte de civis, o vandalismo e os actos de destruição em várias partes do país, a crise social e política continua a se intensificar, colocando em evidência a fragilidade da relação entre o governo e a população. Enquanto isso, a Polícia da República de Moçambique promete continuar sua missão de restaurar a ordem pública, mas a falta de diálogo e a repressão excessiva parecem continuar alimentando a violência e o descontentamento. (Bendito Nascimento)