A medida, que seria o primeiro regime militar no país desde 1980, provocou intensa reacção política e social, levando a protestos massivos nas ruas de Seul.
Yoon justificou a declaração da lei marcial como necessária para “proteger a ordem constitucional” e “erradicar forças pró-Coreia do Norte”. Contudo, a medida foi amplamente criticada por políticos e membros da sociedade civil, que a consideraram uma ameaça directa à democracia sul-coreana.
O anúncio de Yoon foi transmitido em cadeia nacional, detalhando que o regime militar incluiria a suspensão de actividades parlamentares e o controle de meios de comunicação e editoras, além de ordens para que trabalhadores da saúde em greve voltassem ao trabalho em 48 horas. No entanto, menos de 24 horas depois, o parlamento se reuniu em caráter de urgência para votar contra a medida.
Com 190 deputados presentes, entre os 300 que compõem a Assembleia Nacional, todos votaram pela revogação da lei marcial, incluindo membros do Partido do Poder Popular, o mesmo do presidente. Han Dong-hoon, líder do partido governista, classificou a declaração de Yoon como “errada” e se comprometeu a “impedi-la ao lado do povo”.
Após a votação, o presidente da Assembleia Nacional, Kim Won-sik, declarou que a lei marcial era inválida. “O presidente deve revogar imediatamente a medida. A Assembleia Nacional está comprometida em defender a democracia ao lado do povo”, afirmou Won-sik.
Horas após a rejeição parlamentar, Yoon anunciou a retirada das tropas mobilizadas para implementar o regime militar. Segundo o presidente, a formalização da revogação será realizada em uma reunião de gabinete. Militares destacados começaram a deixar o edifício do parlamento pouco depois das duas da manhã, horário local.
A decisão de recuar foi recebida com alívio por manifestantes que permaneciam em frente à Assembleia Nacional desde o anúncio inicial. A retirada das tropas e a revogação da lei marcial foram celebradas com aplausos e cânticos.
A tentativa de Yoon de impor a lei marcial ocorre em meio a um contexto político complicado. Desde que assumiu a presidência em 2022, enfrenta dificuldades para implementar sua agenda, devido à maioria opositora no parlamento, controlado pelo Partido Democrático.
Além disso, o governo tem sido alvo de manifestações frequentes, impulsionadas por acusações de má gestão e escândalos de corrupção envolvendo a primeira-dama, Kim Keon-hee. Grupos de oposição e sectores da sociedade civil têm pressionado pela renúncia do presidente, com protestos que ganharam força nos últimos meses.
A decisão de Yoon gerou preocupação entre aliados internacionais da Coreia do Sul. Analistas alertaram que a declaração de lei marcial poderia minar a credibilidade do país como uma democracia estável na região.
Embora o presidente tenha recuado, especialistas afirmam que o episódio pode enfraquecer ainda mais sua posição política. A oposição já sinaliza a possibilidade de avançar com esforços para destituí-lo, enquanto cresce o descontentamento popular em relação à liderança de Yoon.
Com o parlamento retomando suas actividades e a lei marcial anulada, o foco agora se volta para as negociações políticas e as medidas que Yoon tomará para restaurar a confiança em sua administração. (Bendito Nascimento)