Escrito por: Omardine Omar, Jornalista
INTEGRITY-MOÇAMBIQUE, 16 de Setembro de 2022– Há dias, decidi mergulhar numa jornada tenebrosa e complexa. Vivenciar de perto o vício que perturba a Cleide Mafumo, uma rapariga de 16 anos de idade, que decidiu seguir os passos de uma catatónica vida. Mesmo sem meios de segurança criados, optei por percorrer a famosa Mafalala, na cidade de Maputo, Moçambique.
Motivado. Segui na boleia de Marcos Toyado, um amigo de longa data, que curiosamente no referido dia completava mais um ano de vida. Começamos cambaleando pelas ruas e avenidas de Maputo, ao som do ícone da música jamaicana, Bob Marley: Is this love. Sem alternativas de onde poderíamos passar a noitada e com uma pauta investigativa na manga há longa data, acabei aconselhando o Marcos Toyado, que seguíssemos para Mafalala. Numa marcha lenta e ao som de Bob – entramos num dos bares da Mafalala. Sentamos e fomos consumindo e lançando os olhos para todas e todos que por ali desfilavam e exibiam os corpaços escondidos em roupas de verão e de elegância.
A noite fugia, até que decidimos rumar a um outro local, já que a companheira do Marcos Toyado, sentia-se traída por ele conversar com outras mulheres por ali presentes. Decidimos e partimos, mas não para casa, sim, para um outro bar. No local, encontrei o que eu procurava ver – uma juventude sem esperança, esquecida e abalada pela quantidade de fármacos e narcóticos que consome diariamente. Os jovens que por ali esticavam os seus esqueletos, pareciam não ter almas – até que de repente a Cleide Mafumo, colocou os pés naquele local, toda ela quebrada, sem força e nem vontade de viver – estava drogada.
No local, dançavam-se os grandes sons dos músicos da casa: Mr. Bow, Liloca, Mr. Kuka, DJ. Ardiles, Neyma e depois entravam algumas kizombas, mas apenas o Marcos e a Otília, é que conseguiam executar os passos como deve ser – os restantes 20 jovens presentes dançavam o que ninguém entendia – pareciam cientistas da dança! Voltemos à Cleide Mafumo! Os ponteiros do meu relógio marcavam 02 horas da madrugada, do dia 03 de Setembro de 2022, quando uma rapariga, vestida de branco, mestiça e com um rosto elegante, mas com rastos de queimadura devido ao consumo de narcóticos, apareceu no bar em que estávamos, pedindo cigarro – ninguém lhe deu, sem soluções já que se apoiava pelas paredes, acabou sendo encaixada pelo sofá pálido por ali existente quando estava em queda livre!
Na ocasião, enquanto observava todo o cenário e trocava um dedo de conversa com alguns jovens presentes naquele espaço, percebi que afinal a Cleide, era escoltada por alguns membros da sua família – senhoras idosas e um homem no volante, que ao que tudo indicava estavam sem soluções para resolver o violento vício da Cleide, uma rapariga que substituiu o sonho de vir a ser médica com a longa fila de internamentos clínicos que em nada resultaram. A família cansou de ser roubada por ela e pelos amigos. A família aceitou ser cúmplice da pequena Cleide, só para que a mesma não empreenda fugas que lhe afastem do convívio familiar por longos dias, sendo usada em apetites carnais de viciados iguais, sempre que uma ronda de consumo de narcóticos pesados termina.
Para proteger a mesma, eles acompanham a rapariga à porta da boca de fumo, ficam aguardando por ela com um carro de recolha imediata para casa (…) tal como ela e a família Mafumo, existem aos montes.
Histórias similares, assistem-se diariamente, nas escolas moçambicanas. Onde menores encontraram uma nova droga – os comprimidos ou remédios de epilepsia, nomeadamente: Carbamazepina, fenitoína, hidantal, valproato, fenobarbital e lamotrigina – tudo com o intuito de não assistirem às aulas – a situação está a deixar professores, pais, encarregados de educação e o sistema sem soluções, porque mesmo com a detenção dos técnicos e proprietários de certas farmácias que vendem estes medicamentos, a saga tende de aumentar!
Neste sentido, quando o responsável do departamento de Educação Pública, no Gabinete Central de Combate à Droga, Orlando Carlos, chamou, há dias, à Imprensa para informar que existiam cerca de 11 164 pacientes com perturbações mentais devido ao consumo de drogas haviam sido atendidos nos Serviços de Psiquiatria e Saúde Mental, de vários hospitais do país, durante o ano de 2021. A situação descrita por Orlando Carlos, evidenciou-se mais nas províncias de Manica (tida como aquela em a população consome mais drogas ilícitas em Moçambique), Sofala e Nampula.
Entretanto, a situação do consumo e tráfico de drogas em Moçambique, nos últimos anos, vem atingindo números alarmantes, havendo dados avançados pelo Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC), em princípios do presente ano de que devido o número de entrada de drogas em Moçambique, devido a porosidade das fronteiras e da “mão leve” de quem deveria combater a praga, o país é constantemente referenciado como a fronteira predilecta dos narcotraficantes, sejam elas aéreas, terrestres ou marítimas. Segundo o pesquisador Joseph Hanlon e o Centro de Integridade Pública – CIP (2018), a heroína vendida via WhatsApp chegou a vender mais que certos produtos de grande valor, facturando de 600 milhões a 800 milhões USD por ano, perdendo apenas para o carvão mineral que era o mais exportado do país.
Em Moçambique, diariamente o SERNIC apreende quantidades diversas de drogas pesadas como a heroína, metanfetamina, cocaína, cristal, ópio e outras. Estudos como da Global Initiative (GITOC) apontam o envolvimento de empresários renomados e políticos influentes do país – diante disso, como venceremos esta guerra/drama que nos abala?
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