Estudantes, com cadernos firmemente agarrados debaixo do braço, marchavam lado a lado com seus professores. Aquele não era um dia comum de aprendizado. Era um capítulo vivo e intenso da história de cidadania. Os professores, carregando nas costas o peso de anos de promessas não cumpridas, tomaram uma decisão firme: cruzar os braços.
Não foi uma escolha fácil, mas tornou-se inevitável diante da precariedade que enfrentavam. Havia uma dívida, e não apenas financeira salários atrasados e horas extras negligenciadas, mas também moral, com condições de trabalho que já não poderiam mais ser ignoradas. No entanto, desta vez, eles não estavam sozinhos. Em um gesto raro e poderoso, os estudantes, compreendendo que o cerne de sua educação e, por extensão, de seu futuro, estava em jogo, uniram-se ao movimento.
Com cartazes coloridos e mensagens marcantes, vozes juvenis e adultas ecoaram juntas. As ruas de Maputo transformaram-se em uma sala de aula a céu aberto, onde se ensinava e aprendia-se sobre direitos, coragem e a força da colectividade. Enquanto isso, o Ministério da Educação, a entidade que deveria ser o guardião da qualidade e da dignidade do sistema educacional permanecia envolto em um silêncio perturbador.
As tentativas de negociação pareciam esbarrar em uma parede de apatia. Pior ainda, e que num passado muito próximo em plena luz do dia na baixa da cidade concretamente ali no jardim dos Madjermanes a repressão se fez presente: o braço direito do regime (UIR) em cumprimento das ordens superiores usou gás lacrimogéneo para dispersar manifestações pacíficas dos professores, numa tentativa de calar aqueles que buscavam
dignidade. Mas nem mesmo a brutalidade conseguiu enfraquecer a aliança entre professores e alunos.
A juventude compreendeu algo essencial: lutar por melhores condições de ensino é também lutar pelo próprio direito de aprender. Essa mobilização corajosa desafiou velhos discursos que colocavam a educação em segundo plano. Ela deixou claro que a indignação colectiva, quando bem canalizada, é um instrumento poderoso de transformação. O vazio das salas de aula ganhou significado tornou-se um símbolo de resistência e um grito por mudanças.
Enquanto isso, nos escritórios refrigerados do governo, parecia haver uma desconexão desconcertante. Os responsáveis pela gestão da educação pareciam incapazes de compreender a profundidade do problema ou subestimavam o poder de uma sala de aula vazia e uma rua cheia
de vozes unidas. Talvez ainda não tenham aprendido a lição mais essencial de todas: sem professores comprometidos e alunos motivados, não há futuro possível para nenhuma sociedade. (Dedos D’eus)