Por: WILSON PROFIRIO NICAQUELA
E daí, no lugar de responder, costumo comentar, tenho em vista mobilizar retórica e eloquência necessários para eles perceberem que não estamos querendo e nem é nossa vontade. É fruto de condicionamento. Todos guardamos uma série de rasgos negativos, que ocultamos nos intervalos entre a indisposição e a lucidez. Esses rasgos, quando temos oportunidade do poder, mobilizamos automaticamente.
E não é apenas isso, tem outros factores e quiçá os mais salientes, nós somos condicionados, recorrentemente. O nosso modelo educacional é um dos piores condicionantes (António Carlos do Rosário In Tenda do Julgamento).
O nosso ensino em Moçambique é “opressor e bancário” diria (Paulo Freire, na pedagogia do oprimido). A nossa educação é uma reprodução do modelo conformista, foi concebida para formar bons cidadãos. Aliás, nós estamos permanentemente em actualização para termos um padrão de comportamento desejado pelo aparelho ideológico. Encontrar um fora do padrão é uma excepção e fruto da conjugação de vários factores exógenos ou endógenos do aluno.
Portanto, é muito fácil julgar a quem esteja próximo do poder económico ou executivo, hoje. Mas precisa-se entender que, esses académicos não estão querendo, eles foram e estão sendo condicionados pelo poder. Quando deixarem ou forem afastados pelo poder retornarão às origens. Vão se recordar quando eram populares, quando andavam nos supermercados, quando iam à missa todos os dias, quando iam nos Boutique Inclinas e quando questionavam da racionalidade de algumas políticas públicas, hoje não estão querendo, é devido ao condicionamento.
Vejam só, hoje é “complexo” falar de democracia no contexto moçambicano e colocar a escola como espaço democrático. Há 2 razões para explicar isso, essa expressão, [democracia], embora seja secular, para o nosso País teve várias “metamorfoses” (Edgar Morin). As fases metamórficas foram três, nomeadamente: i) na democracia colonial; ii) o centralismo democrático e, III) a democracia multipartidária (actual).
O estágio actual da democracia, à semelhança das outras fases, enferma de profundas perversões devido a dois factores: i) quem anunciou e passou a orientar os seminários, palestras, campanhas de educação cívica sobre o fim da guerra dos 16 anos e início do pluralismo político em Moçambique foram Militares (governamentais e da RENAMO), que regressavam da guerra dos 16 anos. Estes moçambicanos carregavam o discurso democrático e emoções autoritárias latentes.
ii) Nas escolas quem passou a ensinar os conteúdos sobre a democracia foram professores, que vivenciaram vários factores de atrocidades, sobretudo na guerra dos 16 anos e, guardavam mágoas para com a RENAMO. Essa realidade foi pelo facto de muitos professores terem sido mortos durante a guerra, acusados de fazerem parte do sistema político socialista adoptado pelo movimento libertador que se tornou governo, com a Independência Nacional, em 1975.
De salientar que, o termo democracia nas escolas públicas nunca foi encarado com imparcialidade, ou seja, os professores ensinam o que convém, mostrando, sempre, que os outros são a causa da maldição e que deveriam merecer “uma vigia permanente” (Ngoenha e Castiano, 2021).
Nesse sentido, a nossa geração cresceu sabendo que, na democracia, há, sempre, outro que parece normal, mas deve ser constantemente monitorado, porque não é comprometido com as causas nacionais. Esse outro não tem sentido de pertença nem compromisso cidadão. Geralmente, no seu lugar político, profissional e social é na OPOSIÇÃO e, por conseguinte, NÃO É NOSSO.
Assim, os não nossos, os outros, os opositores merecem uma monitorização contínua e permanente, como um estudante universitário ousa em questionar a sanidade ou lucidez de um académico que acaba de conquistar um espaço no poder económico ou político-administrativo? Acham que ele está querendo? Não julguem, foi condicionado assim!