A repressão policial nas manifestações em Moçambique, como evidenciado nas últimas semanas, vai além do uso desproporcional da força: é o reflexo de um sistema que teme a verdade e se protege com o ferro da opressão.
Doze mortos, centenas de detidos, e um número incontável de feridos, muitos dos quais preferem curar suas feridas em casa, longe de qualquer hospital onde possam ser alvos novamente. O medo não é só das balas, mas também da continuidade de um silêncio imposto pelas grades das destintas Esquadras que vezes sem conta negam acesso a advogados. Para os que protestam, a indignação é clara: eleições fraudadas e uma crise socioeconómica que não mais se esconde. O custo de vida sobe, enquanto os recursos do país permanecem monopolizados pelas elites no poder, que blindam seus interesses contra qualquer mudança.
O cenário é caótico, mas emblemático. Barricadas, pneus queimados e gritos clamando por justiça ecoam em contraste com a brutalidade policial com destaque para UIR de “RUANDA” que tenta apagar esse clamor. Até a internet, ferramenta para organizar e amplificar as vozes dissidentes, foi sufocada. A liberdade, que deveria ser um direito constitucional, tornou-se uma miragem distante, filtrada por “ordens superiores” que reduzem o direito de manifestação a um crime a ser punido com sangue.
Nesse contexto, a democracia em Moçambique encontra-se em xeque. Não é apenas sobre Venâncio Mondlane e sua rejeição aos resultados eleitorais; trata-se de um povo que cansou de aceitar a desigualdade e a corrupção como regras inquestionáveis. A história mostra que, quando a opressão atinge níveis intoleráveis, a mudança se torna inevitável, ainda que custe caro. Mas por ora, as ruas seguem tingidas pelo vermelho da repressão, enquanto o mundo observa em muitos casos, em silêncio.
Que esta luta não seja esquecida, pois cada voz abafada é um lembrete de que a democracia não se constrói com repressão, mas com diálogo e justiça. Que os que tombaram sejam lembrados não como vítimas, mas como mártires de um país que ainda busca sua liberdade plena. (Dedos D’eus)