Sheila encontrava-se nas imediações da Presidência, em Maputo, a reportar sobre o congestionamento no local, causado por uma manifestação convocada por Venâncio Mondlane ontem, em homenagem às mais de 60 pessoas que perderam a vida devido à repressão policial durante protestos contra a fraude eleitoral e “assassinato do povo moçambicano pelo governo da Frelimo”.
A manifestação, caracterizada por buzinadas e interrupção do trânsito, mobilizou centenas de cidadãos que buscavam prestar tributo às vítimas mortais da violência policial nos últimos dias durante as manifestações em quase todo o país. Levando a interrupções da avenida que cruza a presidência por um período de cerca de uma hora.
Durante a cobertura, Sheila utilizava a conta de Adriano Nuvunga, presidente do CDD, para transmitir ao vivo no Facebook, os eventos, uma transmissão que já contava com mais de 2 mil espectadores quando foi interrompida pelo militar.
De acordo com André Mulungo, outro representante do CDD, os militares alegaram que a área onde Sheila fazia a transmissão é uma “zona proibida” para gravações e confiscaram o celular para analisar e, possivelmente, apagar os vídeos registados. Sheila não sofreu agressões físicas e encontra-se em segurança, mas o telemóvel ainda está sob posse dos agentes.
Os militares instruíram o CDD a retornar às 15 horas de hoje para a devolução do dispositivo ou aguardar um contacto para a entrega do equipamento. Entretanto, a retenção do telemóvel levanta questões sobre o respeito aos direitos de imprensa e liberdade de expressão no país, especialmente em um momento de elevada tensão política.
Contudo, este incidente, ocorre num contexto de crescente repressão contra jornalistas que tentam mostrar as nuances das manifestações ao longo de vários pontos do país, com o ponto mais alto, registado no dia 21 de outubro quando a polícia lançou gás lacrimogêneo contra jornalistas que entrevistavam o candidato presidencial Venâncio Mondlane junto da praça da OMM na cidade de Maputo. (Bendito Nascimento)