INTEGRITY, MAPUTO, 20 DE NOVEMBRO DE 2024 – A manifestação decorreu entre as 12h e as 12h15, quando os automobilistas pararam as suas viaturas nos principais cruzamentos de Maputo, como na Avenida 24 de Julho, na Avenida Marginal e em áreas adjacentes aos centros comerciais da cidade. Durante este período, não houve silêncio nas ruas. Pelo contrário, a cidade foi marcada pela ressonância das buzinas, num gesto de protesto e solidariedade. As ruas, normalmente movimentadas, foram temporariamente inundadas por carros parados e pessoas trajadas de preto, criando uma imagem poderosa de resistência e unidade, acompanhada pelo som das buzinas que ecoavam como um clamor coletivo por justiça.
Esta manifestação foi sugerida por Venâncio Mondlane, candidato presidencial pelo partido PODEMOS, que, na passada terça-feira, durante uma live nas redes sociais, apelou aos moçambicanos para se unirem de forma pacífica, mas com firmeza, contra as alegadas fraudes eleitorais e a violência policial. Mondlane, que contesta os resultados das eleições de outubro, pediu à população que se manifestasse de maneira ordeira, mas sem deixar de expressar a sua indignação de forma vibrante.
A adesão ao movimento foi massiva, com cidadãos de diversas idades e classes sociais a participarem. O uso do preto, cor tradicionalmente associada ao luto, não só marcou o protesto, mas também conferiu uma forte unidade visual, transformando o simples acto de vestir-se de preto num símbolo de resistência e solidariedade.
Além da paralisação das viaturas, uma nova acção de protesto é a batida das panelas as 21h. Nesse momento, moradores de várias zonas de Moçambique, incluindo Maputo, fsão convocados a bater panelas como forma de protesto contra o processo eleitoral considerado fraudulento. O som das panelas ecoou por várias cidades, mas é especialmente intenso nos bairros centrais da capital, transformando-se numa manifestação sonora de reforço a indignação popular contra a alegada fraude eleitoral e a violência que se seguiu.
Embora a manifestação tenha sido pacífica, ela não passou despercebida. O acto veio reforçar o clima de tensão política e social que se vive em Moçambique desde as eleições, com as acusações de fraude eleitoral a dominar a agenda pública, especialmente entre os eleitores e movimentos da oposição.
Venâncio Mondlane, que se posiciona como defensor da transparência e da justiça eleitoral, voltou a exigir responsabilização pelos actos de violência policial, que têm sido uma constante nas manifestações em várias partes do país. O candidato apelou também à continuidade da luta pacífica, por um futuro onde os direitos humanos e a democracia sejam verdadeiramente respeitados.
Com um cenário político cada vez mais polarizado, a manifestação de hoje tornou-se um símbolo não só da memória das vítimas da violência policial, mas também da força de um povo que, mesmo diante de tantas adversidades, encontrou na unidade e no gesto simbólico de vestir-se de preto uma forma digna de protestar. O protesto, que combinou um forte simbolismo com um estilo único e o som das buzinas, mostrou que a luta pela justiça em Moçambique continua a crescer, com o povo a afirmar cada vez mais a sua voz, firme e unida, contra a fraude eleitoral e a violência. – ONÉLIO DUARTE