A instituição, no entanto, esclareceu que a participação de Chapo em qualquer evento estará condicionada à validação oficial dos resultados eleitorais pelo Conselho Constitucional de Moçambique.
O convite foi emitido em 13 de novembro de 2024, mas rapidamente gerou uma forte mobilização nas redes sociais, particularmente na página do Chatham House no Facebook. Muitos moçambicanos, insatisfeitos com o processo eleitoral, usaram a plataforma para expressar sua indignação e pedir que o evento fosse suspenso, considerando o convite prematuro e suspeito, uma vez que o resultado ainda não havia sido validado oficialmente pelas autoridades competentes.
Diversos comentários destacaram a preocupação com o que foi visto como um reconhecimento implícito da vitória de Chapo, mesmo diante da contestação de sua eleição. Muitos internautas lembraram que Chapo não havia sido formalmente proclamado vencedor e que a Comissão Nacional de Eleições ainda não havia recebido a validação do Conselho Constitucional, o que foi visto como uma tentativa de legitimar um candidato que ainda não tinha o apoio oficial do processo eleitoral.
“Obrigado por ouvir o nosso clamor! Mas insistimos que não convidem Daniel Chapo, porque ele não venceu as eleições”, comentou um internauta. Outros questionaram a postura da instituição, sugerindo que a validação oficial do vencedor deveria ser priorizada. “Aguardem pela validação oficial. Caso outro candidato seja reconhecido, o convite será mantido?”, questionou outro usuário da rede social.
Críticos do processo eleitoral também destacaram desconfianças sobre a imparcialidade do Conselho Constitucional, sugerindo que a instituição poderia estar agindo de forma a beneficiar o partido no poder, a Frelimo. “O Conselho Constitucional trabalha para o partido no poder, então não esperem validação deles, pois isso continuará a constituir fraude eleitoral, como sempre fizeram”, afirmou um dos comentaristas. Alguns foram ainda mais incisivos, comparando o cenário político de Moçambique ao de regimes autoritários. “Vocês convidaram Nicolás Maduro também?”, questionou ironicamente outro internauta.
A controvérsia sobre o convite a Chapo gerou debates polarizados, com um lado argumentando que ele não é o legítimo vencedor das eleições, enquanto outro defendendo que qualquer convidado para falar sobre democracia deve ter o respaldo formal do processo eleitoral. Em sua resposta, o Chatham House reafirmou sua postura apartidária e garantiu que qualquer evento com Chapo ocorrerá apenas após a validação oficial dos resultados. A instituição enfatizou ainda que seus eventos visam amplificar vozes diversas e promover debates respeitosos, sempre responsabilizando os participantes por suas declarações.
Após a publicação de uma segunda actualização sobre o convite, os internautas novamente ocuparam a página do Chatham House, com alguns expressando sua gratidão pela resposta, mas outros insistindo na não participação de Chapo.
A situação de Moçambique permanece tensa, com mais de 50 mortos durante as recentes manifestações contra a repressão policial. Esses protestos, convocados por Venâncio Mondlane, candidato presidencial suportado pelo partido Podemos, visam contestar o processo eleitoral, que muitos consideram fraudulento.
Em meio a esse cenário, a SADC (Comunidade de Desenvolvimento da África Austral) já parabenizou a Frelimo pela vitória eleitoral, o que gerou ainda mais desconfiança sobre a imparcialidade das organizações internacionais em relação ao processo eleitoral moçambicano. Essa postura de reconhecimento prévio da vitória, por parte de uma instituição regional, ocorreu mesmo antes da validação dos resultados pelo Conselho Constitucional e a realização de uma cimeira extraordinária, cujo tema central foi justamente a crise pós-eleitoral no país.
Contudo, a questão, portanto, não é apenas sobre quem será convidado a debater em instituições internacionais como o Chatham House, mas também sobre a luta contínua de Moçambique para garantir um processo eleitoral livre, justo e transparente, sem interferências externas ou manipulação interna. (Bendito Nascimento)