“O caos em Moçambique e as proféticas palavras do Indivíduo A: António Carlos do Rosário”

INTEGRITY-MOÇAMBIQUE, 19 de novembro de 2024-Em 30 de Outubro de 2023, António Carlos do Rosário, conhecido como "Indivíduo A" no processo das dívidas ocultas, publicou uma carta aberta ao Presidente Filipe Nyusi, um documento marcante tanto pela sua franqueza quanto pela análise crítica do estado político, institucional e social de Moçambique. A carta, escrita no contexto de uma crise pós-eleitoral, apresenta reflexões que, em 2024, ressoam como um eco profético dos desafios que o país continua a enfrentar.

A carta surgiu logo após as eleições autárquicas de outubro de 2023, marcadas por alegações de fraude, protestos violentos e repressão policial. Esse cenário foi criticado pelo Indivíduo A, que alertou para o impacto negativo dessas práticas na confiança popular. Ele escreveu:

“Não era preferível ter trabalhado bem para conquistar as mentes e os corações dos moçambicanos do que enveredar pela montagem de teatros do tamanho do mundo para hoje recorrer a martelanços de resultados de eleições autárquicas?”

Essa questão retórica revela a insatisfação do autor com a estratégia política que, segundo ele, prioriza o controle do poder em detrimento do respeito pela soberania popular. Em comparação, o autor rememora períodos em que o partido no poder agia com maior alinhamento aos princípios democráticos, destacando como exemplo a decisão de Armando Guebuza de aceitar resultados eleitorais desfavoráveis em 2011 a favor de Manuel de Araújo na autarquia de Quelimane.

Em contraste, as eleições de 2023 aprofundaram o fosso entre o governo e a população, com protestos que culminaram em repressão e perda de vidas. Para António Carlos do Rosário, essa abordagem é uma falha estratégica e moral que ameaça a estabilidade nacional.

Segurança nacional como pilar negligenciado

Um dos pilares da carta é a segurança nacional, que o autor apresenta como um elemento essencial para a paz e o desenvolvimento do país. Ele defende que a segurança não é algo produzido por instituições isoladas, mas um reflexo da confiança e colaboração entre o governo e os cidadãos. Ele observa:

“A segurança é produzida pelos milhões de moçambicanos que habitam o território nacional.”

No entanto, os eventos de 2024 indicam que esse princípio tem sido desrespeitado. A repressão contínua aos protestos e as greves em sectores essenciais além dos cidadãos comuns, como educação e saúde, são sinais de uma relação deteriorada entre o Estado e a população. Em vez de fortalecer os laços sociais, o governo parece estar aprofundando as divisões.

A carta do indivíduo A, faz várias referências a períodos anteriores, especialmente os mandatos de Joaquim Chissano e Armando Guebuza, como exemplos de liderança mais conectada à população. O autor destaca que, apesar dos desafios enfrentados por esses líderes, eles buscaram governar com maior respeito às normas democráticas. Ele pergunta:

“Por que temos dificuldade em seguir o exemplo dos sábios Presidentes Chissano e Guebuza?”

Essa comparação é ainda mais relevante quando se analisa o actual contexto de Moçambique. Em 2024, as greves e protestos tornaram-se mais frequentes, reflectindo a insatisfação com políticas governamentais que ignoram as demandas populares. Em vez de um diálogo construtivo, a resposta tem sido muitas vezes a repressão e assassinato dos manifestantes liderados por Venâncio Mondlane, aprofundando o sentimento de injustiça.

O apelo à liderança ética

Um dos trechos mais impactantes da carta é o apelo do autor para que o Presidente Filipe Nyusi considere o impacto de suas acções e, se necessário, renuncie em prol do bem maior do país. Ele escreve:

“Não permita que manchem o seu último ano de mandato. É melhor colocar o seu lugar à disposição do que tentar travar o vento com as mãos.”

Portanto, ressaltando a importância de uma liderança ética e responsável, especialmente em tempos de crise como o actual. Em 2024, com um ciclo eleitoral conturbado, com manifestações por todo canto, quase todos os dias, essa reflexão ganha ainda mais relevância. A falta de confiança nas instituições eleitorais e o descontentamento generalizado podem ameaçar não apenas a estabilidade política, mas também o progresso social e econômico do país.

Um ano após a publicação da carta, as questões levantadas por Indivíduo A permanecem tão relevantes quanto no momento em que foram escritas. Elas servem como um alerta para o governo moçambicano: sem a reconciliação com o povo e sem uma governação mais inclusiva e ética, os desafios do país continuarão a se agravar.

O apelo pela paz, unidade e desenvolvimento, fundamentado em uma segurança verdadeiramente nacional, é uma mensagem que transcende o momento em que foi escrita. Para Moçambique, a carta de António Carlos do Rosário é mais do que uma crítica, é um chamado à responsabilidade colectiva e à construção de um futuro mais justo e democrático. (Bendito Nascimento)

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