Uma das regiões que vivenciamos que Moçambique estava diante de uma revolução foi em Cuamba, na província de Niassa. Os ponteiros do relógio marcavam 23h30 minutos quando o candidato presidencial Venâncio Mondlane chegou ao Município de Cuamba e, mesmo com a escuridão que se fazia sentir no ponto de chegada, a juventude o esperava amplamente motivada. Naquele dia, mesmo sem comer e sem viaturas luxuosas, os jovens de Cuamba marcharam e cantaram alegremente.
No dia seguinte, a mesma situação vivenciou-se em Mecanhelas, onde pude provar o verdadeiro sentido da intolerância política. Naquela região, uma estância hoteleira chegou a recusar-me a hospedagem, simplesmente porque o meu carro estava na comitiva do candidato do PODEMOS. Tive que procurar um outro canto para passar a noite.
A façanha revolucionária continuou até ao anúncio dos resultados eleitorais e o início das manifestações à escala nacional, mas, apesar de vários episódios sombrios, incluindo os assassinatos bárbaros, em plena marcha e nas suas residências, vivenciei no dia 15 de novembro de 2024, a confirmação de que estávamos, de facto, diante de uma revolução em curso. Presenciar mães e filhas; maridos e esposas tocando, incansavelmente, o “panelaço”, vuvuzelas, aparelhagens e buzinas de viaturas, em obediência ao apelo (ordem) do candidato presidencial Venâncio Mondlane e ao som de DJ Bandeira, foi uma confirmação de que, definitivamente, estamos presenciando uma revolução em curso em Moçambique.
A Frelimo até pode resistir nesta fase, mas, nos próximos dois ou três anos, não terá condições de controlar esta geração que está a vir, mesmo que instale em cada quarteirão dez blindados e homens armados até aos dentes. O “panelaço” foi realizado em bairros de casa de zinco e caniço. O “panelaço” foi realizado por adolescentes de 15 a 17 anos que, dentro de três anos, irão ter a idade para votar e decidir o seu destino. Esta geração se juntará à de 2000 e juntos irão determinar as abcissas governativas deste País. É desta geração que virão os próximos agentes da Lei e Ordem, os defensores da Soberania e os agentes da mudança política, econômica e social.
O processo contestatório de Venâncio Mondlane pode não ter os resultados desejados e definitivos nesta fase, uma vez que todas as instituições do Estado, como o Constitucional, já estão poluídas, moribundas e desconexas com os objectivos da “geração do progresso”, mas o facto é que as sementes já foram lançadas e, nos próximos anos, esta geração não cairá na lábia do regime vigente.
As pessoas não irão mais usar as máscaras para esconder suas escolhas e vontades, mesmo que o CC insista em carimbar a vitória da Frelimo, com resultados mexidos para tentar calar os partidos em ascensão e com créditos firmados, o facto é que os próximos dias não serão para ministros mentirosos e presidentes sem ideias, porque o povo vai cobrar e irá aos comícios e reuniões de prestação de contas com favos de ovos podres para atirar à cara do político que brinca com a dignidade de todo um povo.
O “panelaço” confirmou que todos estão descontentes com actual cenário, e, mesmo que não saiam a rua, como os manifestantes de Ressano Garcia ou Patrice Lumumba, no final do dia todos querem fazer parte deste ciclo de mudança, mesmo os lambe-botas que se fingem de analistas, mas falam como se tivessem disputado uma linda namorada com o Venâncio Mondlane e perdido. Mesmo esses quando assistem aos vídeos da revolução dizem para si mesmos que estão do lado errado da história, porque até a minha vizinha, que vende couve e nem sabe ler nem escrever, já percebeu que foi enganada por mais de quatro décadas; razão pela qual durante o seu protesto “panelaço” gritava:
– “Socorro, socorroooo, socorroooo, socorroooo!”
Há uma revolução em curso em Moçambique e não há quem possa negar ou se opor a isto! (Omardine Omar)