INTEGRITY-MOÇAMBIQUE, 15 de Setembro de 2022- Na Índia, assim como noutras ex-colónias britânicas, a morte de Isabel II está a merecer um misto de indiferença e de revolta. Ainda antes do seu falecimento, já o país avançava com mais esforços para apagar o passado colonial que associa aos 70 anos de reinado da monarca. Vários africanos partilham desse sentimento, com uma académica nigeriana a desejar, pouco antes da morte da rainha, que a sua dor fosse “excruciante”.
Horas antes da notícia da morte de Isabel II, o primeiro-ministro indiano fazia um discurso no qual pedia à nação que ajudasse a quebrar os laços coloniais. A mais recente decisão nesse sentido foi a de renomear o caminho que leva à Porta da Índia, monumento nacional em Nova Deli que homenageia os soldados mortos na I Guerra Mundial.
Anteriormente chamada de Kingsway (“caminho do rei”), a avenida homenageava o rei Jorge V, avô de Isabel II; mas, para Narendra Modi, era “o símbolo da escravatura” sob o Raj britânico, período durante o qual o Reino Unido dominou a Índia, entre 1858 e 1947.
Agora, com o nome Kartavya Path, “é criada uma nova história”, frisou o primeiro-ministro indiano. A renovada avenida acolhe agora, no lugar onde antes estava uma estátua de Jorge V, uma estátua de granito de Subhas Chandra Bose, líder do movimento de independência da Índia.
Horas depois da inauguração de Kartavya Path, chegou à Índia a notícia da morte de Isabel II. E se, por um lado, muitos dos indianos reagiram com tristeza pelo desaparecimento de uma figura que respeitavam, muitos outros receberam a novidade com indiferença.
“A monarquia britânica tem zero relevância para os indianos hoje em dia; não tem qualquer importância”, defendeu à agência Associated Press o autor indiano Kapil Komireddi.
“A Índia destacou-se como potência em ascensão. O país pode ganhar muito com o Reino Unido, mas o Reino Unido pode ganhar muito mais com a Índia”, considerou, lembrando o enorme papel da economia indiana nos dias de hoje.
Além disso, destacou o autor, para a maioria dos indianos nascidos na geração pós-independência, não há praticamente ligação com Isabel II ou com a família real no geral.
“Não temos qualquer sentido de ligação emocional com a rainha. Ela era uma monarca e eu não acredito na ideia de uma monarquia”, contou por sua vez à AP Sankul Sonawane, de 20 anos, acrescentando que a notícia do falecimento “não teve qualquer impacto” nele.
“Que a sua dor seja excruciante”
Para além da indiferença, há quem tenha reagido com revolta à morte de Isabel II, sentindo as feridas do passado colonial a abrirem-se. Um coro de indianos renovou os apelos para que o Reino Unido devolva à Índia uma das mais famosas joias do mundo: o diamante Koh-i-Noor, de 106 quilates, descoberto em solo indiano no século XIV.
A jóia, alvo de disputa entre pelo menos quatro países, foi cedida pela Índia à rainha Vitória após a anexação britânica da região de Punjab, em 1849. Agora, com Carlos III no trono, o diamante passa para Camila, a rainha consorte.
Mas não só da Índia chegam pedidos de acerto de contas com a monarquia britânica. Uju Anya, nascida na Nigéria e hoje professora académica nos Estados Unidos, tem sido alvo de duras críticas após uma polémica publicação no Twitter sobre a morte iminente de Isabel II.
“Soube que a chefe da monarquia de um império genocida, ladrão e violador está finalmente a morrer. Que a sua dor seja excruciante”, escreveu Anya.
A publicação foi rapidamente eliminada pelo Twitter, que invocou a violação das normas da rede social. Mas o tweet já se tinha então tornado viral e muitos condenaram as duras palavras, incluindo o fundador da Amazon, Jeff Bezos.
“Esta é uma pessoa que supostamente trabalha para tornar o mundo melhor? Não me parece. Wow”, escreveu o bilionário, referindo-se ao facto de Uju Anya ser também ativista pelos direitos raciais e de género.
A Universidade de Carnegie Mellon, onde Anya dá aulas, lançou um comunicado no qual condenou as palavras da professora, considerando-as “ofensivas e censuráveis”, mas decidiu não a demitir.
Em resposta às críticas, a académica escreveu que “se alguém espera que eu expresse algo senão desdém por uma monarca que supervisionou um Governou que patrocinou um genocídio, massacrando e deslocando metade da minha família, cujas consequências os que ainda vivem lutam por ultrapassar, então podem continuar à espera”.
Entretanto, uma petição em defesa de Anya já reuniu milhares de assinaturas, essencialmente de outros académicos e de alunos da Carnegie Mellon.
Pessoas de toda a Escócia viajaram esta terça-feira para a capital, Edimburgo, para ver o caixão da rainha, disposto ao sul da Catedral de Santo Egídio. O corpo de Isabel II vai agora para Londres, onde passará por vários pontos da cidade até ao dia do funeral, a 19 de setembro. (RTP)
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