Os protestos, motivados por descontentamentos sociais atrelados a “injustiça eleitoral” que deixou Daniel Chapo com 70% dos votos presidenciais e o seu partido como o primeiro mais votado, geraram interrupções operacionais e bloqueios em áreas essenciais para a economia, impactando directamente o Produto Interno Bruto (PIB) nacional, que sofreu uma redução de cerca de 2,2%.
Impacto no sector de transporte e logística
As interrupções no sector de transporte foram intensas. Durante o período de dez dias de manifestações, aproximadamente 127 viagens foram canceladas diariamente. Este bloqueio causou uma perda acumulada de 417 milhões de Meticais, resultado principalmente de barricadas e exigências de taxas de passagem impostas pelos manifestantes. Essa situação impactou o transporte de mercadorias para centros estratégicos de comércio e aumentou o custo logístico das empresas que tentaram manter suas operações, enfrentando filas e atrasos.
O Porto de Maputo, uma das principais rotas de exportação e importação do país, também viu uma queda drástica no movimento de caminhões. Normalmente, entre 900 e 1.200 caminhões cruzam a fronteira diariamente, mas, durante as manifestações, esse número caiu para aproximadamente 300, o que afectou o fluxo de bens e matérias-primas, além de impactar as receitas do sector de logística.
Consequências no comércio e no sector financeiro
O sector financeiro foi outro dos mais prejudicados. Nos primeiros dias das manifestações, vários bancos e instituições financeiras decidiram suspender suas actividades temporariamente para proteger seus funcionários e clientes, o que afectou directamente o volume de transações no mercado cambial. Normalmente, as operações diárias giram em torno de 60 milhões de dólares, mas nos dias 24 e 25 de outubro, esse valor caiu para cerca de 14 milhões, representando uma queda de 75,3% nas operações de câmbio. Essa redução teve efeitos imediatos no mercado e trouxe preocupações sobre a recuperação econômica de curto prazo.
Sector de turismo e hotelaria afectados
Outro segmento impactado foi o turismo, com perdas significativas no sector hoteleiro. De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), Maputo Cidade abriga 43% dos turistas estrangeiros que visitam Moçambique. Contudo, devido às manifestações, muitos turistas começaram a cancelar suas reservas, especialmente para a temporada de final de ano, quando a demanda por hospedagem costuma aumentar. Esse movimento de cancelamento resultou em uma projecção de perdas para o sector de aproximadamente 1,3 mil milhões de Meticais.
Restaurantes e comércio sofrem queda nas receitas
Maputo Cidade e Província, com cerca de 1.571 restaurantes, também enfrentaram quedas acentuadas nas receitas. Com a maior concentração de estabelecimentos do país, estima-se que esses restaurantes tenham perdido cerca de 1,5 mil milhões de Meticais durante os dias de paralisação, devido à falta de clientes e ao fechamento temporário de muitos estabelecimentos.
Vandalismo e danos materiais em unidades empresariais
As manifestações também foram marcadas por actos de vandalismo e arrombamentos, que atingiram um total de 151 unidades empresariais em várias regiões do país. Esses danos materiais representam prejuízos estimados em aproximadamente 45,5 milhões de dólares, segundo estimativas do CTA, e afectaram directamente mais de 1.200 trabalhadores, colocando seus empregos em risco e impondo desafios adicionais para a recuperação das empresas impactadas.
Perspectivas e impacto na cadeia logística
Com as interrupções na cadeia logística e o desvio de tráfego em rotas essenciais, como o corredor da Beira, que liga Moçambique a países vizinhos como o Zimbabué, as empresas podem enfrentar desafios de abastecimento e distribuição de produtos. A CTA alertou para as implicações a longo prazo dessa situação, que pode levar à busca de rotas alternativas, afectando ainda mais as operações comerciais e o fluxo econômico de entrada e saída de bens no país.
Contudo, a CTA e outros órgãos econômicos destacam a necessidade de uma estabilização rápida, uma vez que os sectores mais afectados possuem um papel essencial na recuperação econômica e no crescimento do país. A situação permanece sob monitoramento e será um dos principais focos das discussões econômicas nos próximos meses, com o objectivo de traçar estratégias para mitigar os prejuízos causados e promover a retomada econômica. (Bendito Nascimento)