Por: Bendito Nascimento
A polícia, incumbida de proteger o cidadão, se torna a protagonista, mas a pergunta que não quer calar é: será que alguém lhes explicou que um protesto é um direito, uma expressão democrática, e não um levante bárbaro? Cada bomba de gás, lançada quase como quem abençoa o povo, parece ter um único propósito, purificar a vontade de mudança, fazendo com que cada lágrima forçada pelo gás remeta à punição dos que ousam sonhar com outra realidade.
E aí entra a grande ironia: por que será que a polícia parece estar sempre mais preparada para reprimir do que para proteger? Será que recebem um kit de “controle de multidões” com balas de borracha e verdadeiras, junto com quilogramas de gás lacrimogêneo grátis? Ou será que existe um manual especial, algo como “Repressão em Dez Passos”, que é distribuído entre os oficiais antes de qualquer manifestação?
Talvez, eufemismos à parte, a resposta esteja nas páginas da nossa própria história. Não lembra o modelo colonial, onde os que hoje reprimem já estiveram do outro lado? É curioso, quase paradoxal, ver como os “libertadores” de ontem parecem ter aprendido bem demais com os métodos que juraram combater. Não seria mais justo, mais “democrático” garantir a segurança do povo ao invés de intimidá-lo?
E então nos lembramos da Primavera Árabe, dos protestos nas ruas do Cairo e Tunis. Naqueles países, os sonhos de mudança foram abafados pelas mesmas ferramentas, os mesmos métodos, mas no fim, quem silenciou quem? Será que Maputo também terá sua primavera? Ou continuaremos à espera enquanto o vento do verão-inverno sopra forte, espalhando a poeira da repressão e varrendo as esperanças para debaixo do tapete?
Há algo de intrigante na proporção entre a violência contra manifestantes e a falta de investimento nas áreas essenciais para o povo. É quase como se houvesse uma lista de prioridades invertida, armas para proteger o poder, enquanto a saúde e a educação são deixadas ao acaso. Será que aqueles que gritam e marcham não têm direito a uma escuta verdadeira, a uma mudança legítima?
E então, caro leitor, a pergunta final: por que tanta pressa em calar? Talvez, bem lá no fundo, resida o medo de que o barulho das ruas seja mesmo o prenúncio de que, uma vez que a voz popular se levanta, nada, absolutamente nada, pode permanecer como está.