O discurso, porém, gerou uma onda de reações críticas entre os cidadãos, que expressaram frustração e descrença nas promessas de união e prosperidade. O contexto actual do país, marcado por tensões políticas, alegações de fraudes eleitorais e informações (até aqui não confirmadas oficialmente) sobre o uso de tropas estrangeiras, contribuiu para o tom das respostas.
O apelo do presidente para que os moçambicanos enfrentam as dificuldades com solidariedade e esperança foi recebido com uma série de comentários incisivos, apontando os problemas que afectam o cotidiano dos cidadãos. Um comentário destacou: “Um povo com fome é um povo perigoso”, evidenciando o descontentamento com a falta de melhorias nas condições básicas de vida e as dificuldades econômicas. Outra resposta apontou: “O povo moçambicano está faminto de prosperidade, esperança e melhores condições de vida”, reforçando o sentimento de insatisfação em relação às políticas governamentais.
Contexto da tensão política e social
A mensagem do presidente surge em um momento delicado no país, com parte significativa da população questionando os resultados eleitorais, levando a uma onda de manifestações em todo o país, e reclamação de suposta presença de tropas estrangeiras (ruandesas). Muitos cidadãos também relatam que o governo implementou restrições na internet, o que foi motivo de insatisfação generalizada. “Ora vejamos, como espera que esse comunicado chegue às pessoas? Se a internet não funciona para certas pessoas”, escreveu um usuário, destacando a ironia de um discurso sobre união e paz em meio a limitações que afectam directamente a comunicação no país.
Reclamações sobre segurança e repressão
Outra camada de críticas se referiu ao tratamento dado pelas forças de segurança em protestos e manifestações públicas. Diversos cidadãos condenaram a repressão policial que, segundo relatos e vídeos postos a circular no meio virtual, tem resultado em agressões e até mortes de manifestantes. Comentários como “Como podemos estar juntos se há velhos, jovens até crianças a serem mortas?” Foram acompanhados por pedidos para que o governo reveja a postura das forças de segurança e suas acções contra a população. Os usuários também fizeram um apelo directo para que o presidente ordene a retirada das forças estrangeiras: “Senhor presidente, veja se nos tire as tropas ruandesas do nosso país”, apontando o descontentamento com o uso de tropas externas para controle da ordem interna.
Demandas por justiça e transparência
Diversos comentários reflectem a percepção de que o governo actual (da FRELIMO) não representa a vontade popular. Um cidadão comentou: “O Povo já está unido há muito, excelência! Falta tu, como o actual Presidente da nação, se unir a este Povo, contribuindo para reposição da verdade eleitoral”. Esse sentimento foi reiterado por muitos que exigiram que o presidente reconheça a derrota eleitoral e permita que o governo passe para novas lideranças (liderado por Venâncio Mondlane). Outro comentário, representando o sentimento de desesperança de alguns cidadãos, expressou: “O povo está cansado… estamos fartos de tanta injustiça”.
Reações irónicas e apelos pela mudança
Em meio a críticas severas, algumas reações adoptarem um tom de ironia e sarcasmo. Um usuário escreveu: “Calado és um bom poeta“, enquanto outro mencionou: “Se eu fosse você, teria vergonha de vir fazer este anúncio“. No entanto, pode se notar que a ironia reflecte a descrença de parte da população quanto à sinceridade do governo em resolver as dificuldades enfrentadas pelo povo. A crítica mais recorrente, contudo, é a de que o discurso presidencial não estaria em sintonia com a realidade. “O senhor presidente não consegue manter a calma quando se dirige à nação, como quer que nós mantenhamos?” questionou um cidadão, referindo-se à postura de Nyusi quando tem feito as suas comunicações à nação.
De referir que desde que iniciaram as manifestações no dia 21 de outubro, convocadas por Venâncio Mondlane, o chefe do governo, não fez ainda uma comunicação à nação com carácter incisivo à situação actual em que o país vive, se limitando a ficar na superficialidade do discurso. (Bendito Nascimento)