Com base em 1900 observadores distribuídos por mais de 1500 mesas de votação em 161 distritos, o relatório detalha uma série de irregularidades que lançam dúvidas sobre a transparência do pleito.
Manipulação de votos especiais e nulos
Um dos pontos mais críticos levantados no relatório é a suposta manipulação dos votos especiais, que representam os votos dos eleitores que, por diferentes razões, não puderam comparecer à sua mesa de votação regular. Na província de Nampula, em particular, 58% das mesas reportaram um número excessivo de votos especiais, ultrapassando 12 votos por mesa, um padrão anômalo que pode indicar a prática de voto plúrimo. Os observadores acreditam que eleitores podem ter sido registrados e votado mais de uma vez.
Além disso, o aumento significativo no número de votos nulos e em branco, que superou 5% em algumas regiões, levanta suspeitas de fraude na manipulação dos resultados. Segundo o relatório, esses números são especialmente altos em distritos onde a oposição teria maior vantagem, sugerindo que votos válidos foram deliberadamente anulados ou desqualificados.
Discrepâncias nos resultados das diferentes eleições
Outro aspecto de grande preocupação foi a discrepância nos resultados das eleições presidenciais e legislativas. Em províncias como Zambézia e Inhambane, o relatório aponta que o número de eleitores e votantes nas duas eleições varia consideravelmente. Esta inconsistência é vista como uma evidência potencial de manipulação ou interferência no registro e na contagem de votos. Por exemplo, no distrito de Milange, Zambézia, o número de eleitores reportados para a eleição legislativa superou em mais de 10% os números da eleição presidencial, levantando sérios questionamentos sobre a integridade do processo de contagem.
Enchimento de urnas e conflitos nas Assembleias de Voto
A observação eleitoral também registou casos de enchimento de urnas em várias partes do país, particularmente nas províncias de Sofala e Zambézia, onde urnas de votação foram supostamente preenchidas com boletins falsificados antes do encerramento das mesas de votação. Delegados de partidos da oposição, que tentavam denunciar o esquema, enfrentaram resistência, o que resultou em confrontos físicos e agressões em algumas mesas de voto.
Nas cidades de Beira e Quelimane, observadores relataram que a contagem dos votos foi feita à porta fechada, sem a presença de delegados da oposição, violando as diretrizes eleitorais que exigem transparência durante o processo de contagem. De acordo com o relatório, houve também casos de anulação deliberada de votos para beneficiar partidos no poder, onde cédulas claramente marcadas para candidatos da oposição foram invalidadas.
Participação eleitoral em Queda
Outro ponto destacado pelo relatório é a queda significativa na taxa de participação eleitoral, com apenas 43% dos eleitores comparecendo às urnas, contra 55% nas eleições de 2019. A diminuição foi especialmente sentida nas províncias do norte, como Cabo Delgado, Niassa, e Nampula, onde a insurgência e questões de segurança podem ter afectado a mobilização dos eleitores. O ambiente de violência, aliado à desconfiança crescente no sistema eleitoral, foi apontado como factores que desmotivaram a população a participar.
Contudo, as Organizações civis e partidos da oposição também têm se pronunciado, exigindo a transparência dos resultados e responsabilização judicial dos infratores. E o clima político no país segue tenso, com manifestações sendo organizadas para segunda-feira, dia 21 de outubro. (Bendito Nascimento)