“O Terrorismo não exige declaração de guerra” – diz Bernardino Rafael e Joaquim Mangrasse se mostra cauteloso

INTEGRITY-MOÇAMBIQUE, 06 de outubro de 2024-O Presidente da República, Filipe Nyusi, exonerou recentemente Bertolino Capitine do cargo de Vice-Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM). A medida, anunciada através de despacho presidencial e sem justificativa oficial, gerou um misto de especulação e inquietação no meio militar e político, especialmente por ocorrer em um momento de desafios operacionais das forças de defesa, com a intensificação dos ataques terroristas em algumas regiões de Cabo Delgado.

Embora a Presidência da República tenha se limitado a declarar que a exoneração de Capitine ocorreu em conformidade com as competências atribuídas ao Chefe de Estado pela Constituição, surgiram rumores de que a decisão tenha sido motivada por um discurso crítico proferido pelo ex-Vice-Chefe do Estado-Maior na Universidade Joaquim Chissano, durante as celebrações dos 60 anos das FADM. No evento, Capitine fez duras críticas à condição dos equipamentos militares, destacando a obsolescência dos veículos Land-Rover adquiridos, que, segundo ele, eram “mais antigos que a Rainha Isabel”. A declaração, embora feita em tom jocoso, suscitou um debate mais profundo sobre a capacidade das FADM em lidar com as ameaças terroristas e as dificuldades enfrentadas no terreno.

Em resposta, o Comandante-Geral da Polícia, Bernardino Rafael, e o Chefe do Estado-Maior General das FADM, Almirante Joaquim Mangrasse, se pronunciaram publicamente.

Bernardino Rafael: “O Terrorismo não precisa de Declaração de Guerra”

Bernardino Rafael abordou a questão ressaltando que o fenômeno deve ser encarado de forma global e não como uma guerra tradicional. “O terrorismo é um fenômeno global. Não precisa de uma declaração de guerra”, afirmou o Comandante-Geral, ao justificar a natureza das acções de combate no norte do país. Segundo Rafael, o Conselho Nacional de Defesa e Segurança já havia classificado os insurgentes como terroristas, o que, de acordo com ele, permite que Moçambique continue a solicitar cooperação internacional para enfrentar o problema.

As palavras de Rafael buscam reforçar a postura do governo de que o combate ao terrorismo não se limita a medidas militares convencionais, mas exige uma abordagem coordenada com parceiros internacionais. O Comandante-Geral destacou ainda que, ao tratar os insurgentes como terroristas, Moçambique abre espaço para maior envolvimento de entidades externas no fornecimento de suporte logístico e de inteligência. A fala de Rafael parece sugerir que a situação em Cabo Delgado não pode ser enfrentada apenas pelas FADM, cuja falta de recursos e a debilidade estrutural têm dificultado a resposta efectiva aos ataques.

Mangrasse adopta postura de cautela: “Cumprir a Missão”

Já o Almirante Joaquim Mangrasse adoptou uma postura mais cautelosa em sua declaração. “Eu não gosto de comentar as coisas dos outros. As forças armadas devem cumprir a sua missão, o foco é esse”, disse, ao ser questionado sobre a exoneração de Capitine. Mangrasse evitou entrar em detalhes ou emitir opiniões que pudessem alimentar ainda mais as especulações sobre o motivo real do afastamento.

Ademais, Capitine é oriundo do antigo movimento rebelde Renamo, sendo integrado às FADM no âmbito dos acordos de paz que resultaram na unificação das forças armadas do país. Desde 1994, tem havido um equilíbrio entre a nomeação de oficiais provenientes do antigo exército governamental (FAM/FPLM) e da Renamo para posições de chefia no Estado-Maior.

Contudo, embora ainda não haja um substituto nomeado para o cargo de Vice-Chefe do Estado-Maior General, a exoneração de Capitine ocorre faltando apenas três meses para o final do segundo mandato de Nyusi como Presidente. (Bendito Nascimento)

 

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