O levantamento abrangeu um total de 2.412 eventos de campanha organizados pelos partidos FRELIMO, RENAMO, MDM e PODEMOS. As constatações apontam para um cenário de crescente desequilíbrio no processo eleitoral, com um ambiente político cada vez mais tenso e polarizado.
O uso de recursos do Estado continua a ser uma das principais preocupações. A FRELIMO liderou com um uso expressivo de bens e funcionários públicos em 26% dos eventos monitorados. Viaturas do Estado e a presença de funcionários, incluindo professores, foram identificados em vários distritos, como Beira, Moatize e Ilha de Moçambique, resultando, em alguns casos, na paralisação total de actividades laborais e lectivas, como se verificou em Cuamba, durante a visita do candidato presidencial do partido no poder. Por outro lado, os partidos RENAMO e MDM registaram o uso de meios públicos em apenas 1% dos eventos.
A violência eleitoral também tem se revelado uma ameaça persistente à integridade das eleições. Durante esta semana, o número de incidentes aumentou, com destaque para confrontos violentos entre simpatizantes de diferentes partidos em Alto Molocué, Mandlakazi e Moma. Esses episódios resultaram em sete vítimas, todas do sexo masculino, evidenciando um aumento de casos face à semana anterior. A maior parte das agressões ocorreu durante interrupções forçadas de caravanas e sabotagem de comícios, demonstrando um agravamento das tensões políticas.
Outro ponto diz respeito à interferência nas actividades eleitorais e à recolha de cartões de eleitores, prática que foi particularmente observada em Maúa e Angoche, onde eleitores que cederam os seus cartões receberam em troca material de campanha, como capulanas e camisetas. A recolha de cartões é uma prática recorrente nos períodos eleitorais e gera preocupações sobre o risco de manipulação do voto e coação aos eleitores.
Por fim, a utilização de locais de culto para fins eleitorais continua a ser observada, especialmente em comunidades rurais. Durante esta semana, foram reportados casos em Mandlakazi (Gaza) e Gondola (Manica), onde membros da FRELIMO usaram igrejas locais para transmitir mensagens eleitorais. Essa prática é condenada pela sociedade civil, pois compromete a neutralidade de instituições religiosas e cria um ambiente de pressão sobre os eleitores, minando a liberdade de escolha e aumentando as desigualdades no processo eleitoral. (Bendito Nascimento)