“Período eleitoral com promessas vazias, falta de credibilidade, risco de abstenção e instabilidade” – Fernando Lima em “discurso directo”

INTEGRITY-MOÇAMBIQUE, 01 de outubro de 2024-Faltando menos de sete dias para o fim da campanha eleitoral, Fernando Lima, analista político e jornalista, em entrevista exclusiva ao “Integrity Magazine”, faz um balanço das actividades dos partidos políticos e das expectativas para o dia 9 de outubro, data marcada para as eleições gerais. Lima traça um cenário complexo, apontando fragilidades no comportamento dos partidos e nas instituições que supervisionam o processo eleitoral.

Segundo Lima, embora mais de 30 partidos estejam registrados para as eleições, apenas uma pequena minoria se fez notar, sobretudo nos meios de comunicação. Este sugere que a ausência da maioria dos partidos no debate público pode indicar dificuldades financeiras ou mesmo falta de apoio popular. “Alguma coisa correu mal para que no universo de mais de 30 partidos só uns quatro ou cinco se deram a conhecer”, comenta Lima. A sua observação levanta a questão de até que ponto os partidos têm, de facto, capacidade de mobilizar eleitores e fazer campanhas robustas, sem depender exclusivamente de financiamento público.

Promessas irrealistas e desmobilização do eleitorado

Lima critica o tipo de promessas feitas durante a campanha. A maior parte dos partidos focou em promessas grandiosas e de difícil concretização, como a construção de mais escolas, postos de saúde e estradas, além de propostas de redução de impostos e preços de produtos básicos. “Todos os partidos andaram a fazer promessas que sabem que não podem cumprir”, declara Lima, enfatizando que tais promessas sem fundamento geram desconfiança e desmotivam os eleitores.

Outro ponto levantado pelo analista é a falta de debate sobre a gestão governamental, especialmente no que se refere à execução do orçamento do Estado. Lima nota que há uma super-inflação na folha salarial do sector público e que os partidos evitam abordar questões sensíveis como a necessidade de revisão do orçamento. Segundo Lima, nos países onde o orçamento do Estado é tratado como uma questão séria, debates sobre o tema podem fazer cair governos ou fortalecer o compromisso deles com o eleitorado. Em Moçambique, no entanto, o orçamento e a sua execução parecem ser encarados apenas como meros processos burocráticos.

Falta de credibilidade das instituições eleitorais

Desde as eleições municipais de 2023, órgãos institucionais envolvidos no processo eleitoral vêm enfrentando uma crise de credibilidade. Para Lima, essa falta de confiança não foi mitigada, e os eleitores permanecem céticos em relação à transparência do processo eleitoral. Este expressa preocupação com a possibilidade de fraude nas eleições gerais, o que pode levar a um aumento da abstenção. “Todas as coisas que nós vamos acompanhando na imprensa mostram que a fraude e a grande fraude continuam a ser uma possibilidade para estas eleições”, alerta Lima.

Esse cenário de incerteza e descrédito é prejudicial para o país, na medida em que contribui para a instabilidade social e política. “Isso cria instabilidade e nós já temos muitos factores de instabilidade, quer em termos de segurança pública, quer inclusivamente em termos de necessidade de mínima estabilização da própria economia nacional”, analisa Lima. A dúvida sobre a integridade das eleições também é potencialmente um factor para o aumento de tensões no dia da votação, como aconteceu em pleitos anteriores, quando surgiram tumultos e contestação por parte dos partidos.

Dependência do financiamento público e campanhas fracas

Lima questiona ainda a seriedade de alguns partidos na condução de suas campanhas, uma vez que muitos parecem depender exclusivamente dos fundos públicos disponibilizados pelo Estado. “Penso que estes partidos não têm eleitorado ou não têm muitos apoiantes e, portanto, para fazer as suas campanhas estão dependentes dos fundos do Estado”, diz. O atraso na entrega desses fundos gerou uma grande inércia entre os partidos menores, que permaneceram ausentes mesmo após o recebimento do financiamento, o que, segundo o analista, reforça a dúvida sobre o verdadeiro papel desses partidos no processo democrático moçambicano.

Este sugere que alguns partidos podem estar presentes nas eleições apenas por conveniência, emergindo apenas em períodos eleitorais. Lima deixa em aberto a possibilidade de que certos partidos actuem como “satélites” do partido dominante ou que estejam em busca de benefícios temporários, ao invés de realmente competirem por votos.

Riscos para a estabilidade e o futuro das eleições

Fernando Lima, expressou preocupações sobre o possível surgimento de tumultos durante as eleições gerais de 9 de outubro, caso sejam observadas fraudes como as que marcaram as eleições municipais anteriores. Lima afirma que ainda não há garantias de que “o fenómeno da fraude e os seus agentes” não voltem a interferir no processo eleitoral, o que poderia resultar em uma onda de descontentamento por parte dos eleitores e partidos de oposição.

“Há uma enorme dúvida nos eleitores sobre se vai ou não vai haver fraude. Se surgirem evidências claras de manipulação, isso é meio caminho andado para haver alterações de lei e ordem, o que é mau para o país porque isso cria instabilidade”, alertou o analista, referindo-se ao impacto negativo que esses episódios poderiam ter na segurança pública e na já frágil situação económica do país.

Por fim, Lima ressalta que o foco excessivo em promessas irrealistas, a ausência de muitos partidos no debate público e a descredibilização das instituições eleitorais são factores que contribuem para um processo eleitoral que, longe de fortalecer a democracia, pode aprofundar a apatia e o ceticismo do eleitorado moçambicano. (Bendito Nascimento)

 

 

Exit mobile version