Telvino Benedito era um professor da Escola Primária Muedamanga, em Mocuba, que se destacou por sua luta contra a corrupção no sector da educação naquele ponto do país. Em meados de 2023, este denunciou um esquema de extorsão salarial que prejudicava professores na província da Zambézia. Esse esquema envolvia descontos ilícitos nos salários de professores, que eram forçados a pagar uma parte de seus vencimentos a determinados indivíduos em troca da promessa de regularização dos salários atrasados. Essa prática ilegal causava grandes dificuldades financeiras aos professores, muitos dos quais dependiam exclusivamente dos seus salários para sustentar suas famílias.
A denúncia de Telvino ganhou ampla repercussão, o que o colocou em uma posição delicada. Nos meses seguintes à sua exposição do esquema, recebeu ameaças e foi alvo de intimidações por parte de indivíduos ligados ao grupo responsável pelos descontos ilegais. Mesmo sob pressão, Telvino continuou a lutar por justiça, exigindo que as autoridades competentes investiguem a fundo as alegações de corrupção e tomassem medidas contra os culpados.
No entanto, sua determinação em expor o esquema teve um desfecho trágico. Na tarde do dia 1 de dezembro de 2023, Telvino recebeu uma chamada que seria, em teoria, uma tentativa de resolver sua questão salarial. A ligação veio de funcionários da direção de Educação local, pedindo para que ele se reunisse com eles para uma discussão presencial. Sem desconfiar das intenções por trás do convite, Telvino saiu de casa. Foi a última vez que foi visto com vida.
No dia seguinte, seu corpo foi encontrado em um terreno baldio nas proximidades da vila de Mocuba. A vítima apresentava sinais evidentes de violência física, sugerindo que ele foi brutalmente agredido antes de ser assassinado. A morte de Telvino, além de causar comoção entre seus colegas e familiares, levantou suspeitas de que o crime pudesse ter sido uma tentativa de silenciar o professor e impedir que suas denúncias progredirem.
Diante do cenário, o SERNIC foi chamado a intervir, iniciando uma investigação em carácter de urgência. Segundo Maximino Amílcar, porta-voz do SERNIC na Zambézia, o órgão mobilizou esforços significativos para identificar os responsáveis pelo assassinato. “Nós fizemos a nossa parte”, afirmou Amílcar, destacando que a investigação liderada pelo SERNIC resultou na detenção de suspeitos, todos com possível ligação ao esquema de extorsão denunciado por Telvino. Após a colecta de provas e a conclusão da fase inicial das investigações, o SERNIC encaminhou o caso ao Ministério Público, conforme as exigências legais.
No entanto, a partir do momento em que o processo foi transferido para o sistema judicial, o SERNIC perdeu o controlo sobre o andamento das investigações. “Na fase do interrogatório preliminar, os indivíduos que haviam sido detidos foram restituídos à liberdade”, relatou Amílcar, visivelmente frustrado com o desfecho temporário do caso. A libertação dos suspeitos gerou revolta não só entre os familiares de Telvino, mas também no próprio SERNIC, que até agora não recebeu nenhuma explicação detalhada sobre as razões que levaram à soltura dos acusados.
A falta de informações claras foi uma das principais queixas do SERNIC desde que o processo foi transferido para as mãos do Ministério Público (MP). Amílcar explica que, uma vez que o caso passou para a jurisdição do MP, o SERNIC ficou impossibilitado de acompanhar de perto o desenrolar das investigações. “Não temos mais nada a fazer”, lamentou, destacando que o SERNIC não tem autoridade para interferir ou questionar decisões judiciais, mesmo quando se trata de um caso tão emblemático quanto o de Telvino.
Apesar disso, o porta-voz enfatizou que o SERNIC não desistiu de buscar justiça para o professor assassinado. “Investigação não termina”, afirmou Amílcar, ressaltando que, se surgirem novos elementos que possam contribuir para o avanço do caso, o SERNIC está preparado para retomar as investigações. “Estamos sempre atentos a qualquer novo dado que possa aparecer”, disse. Contudo, no momento, o órgão encontra-se de mãos atadas, aguardando novas informações que escasseiam, de modo que possam impulsionar o processo.
Outro ponto abordado pelo porta-voz foi a pressão exercida pelo SERNIC durante a fase inicial das investigações, que resultou na detenção dos suspeitos. “É um assunto muito delicado. Tudo bem. Até porque aquela detenção foi por causa da insistência. nós tivemos que insistir, tínhamos que insistir para prender aqueles homens. Tivemos que manter a pressão. Não foi fácil. Estavam a passear a sua classe”, revelou Amílcar, mencionando as dificuldades enfrentadas pelo órgão durante a operação que levou à prisão dos acusados.
Segundo ele, a detenção foi resultado de uma intensa pressão exercida pelo SERNIC, que não descansou até garantir que os suspeitos fossem levados à justiça. “Não foi fácil, mas fizemos o nosso trabalho”, destacou o porta-voz.
O Integrity Magazine contactou também o Ministério público a nível do distrito de Mocuba para saber sobre o andamento do processo, este por sua vez, remeteu o jornal ao Ministério Público a nível provincial. O MP em Mocuba diz não ter nenhum conhecimento sobre o andamento do processo. (Bendito Nascimento)