Mondlane, em seu estilo peculiar, fez uma jogada de mestre ao apontar os problemas financeiros do município de Quelimane. Para quem não sabe, a cidade enfrenta sérios problemas para pagar os salários de seus funcionários. Mas, em vez de abordar essa questão com a seriedade que merece, Mondlane optou por uma pitada de ironia: “Até gosto dele, é meu amigo, só que primeiro tem que resolver o problema de salário.” Se você não pode pagar os funcionários, pelo menos tenha bom humor para rir disso, certo?
E Araújo, claro, não ficou atrás. Respondeu à altura, ou melhor, com uma mordida ainda mais profunda. Afinal, o que é uma crítica sem a oportunidade de relembrar ao oponente que ele “diz que foi roubado duas vezes, mas não conseguiu governar”? Mondlane pode até ser um “puto” sem reconhecimento internacional, mas Araújo está lá, firme e forte, representando África em fóruns globais. Ah, que orgulho deve ser para os eleitores de Quelimane saber que, enquanto esperam os salários, seu líder está sendo aplaudido no Cairo! Porque, afinal, reconhecimento internacional é o que resolve as necessidades do povo, não é?
A verdade é que estamos testemunhando um espetáculo digno de Shakespeare, onde o trono não é o foco, mas sim o ego dos personagens. Venâncio e Araújo se encaram como gladiadores modernos, mas suas espadas são afiadas com sarcasmo e o desejo insaciável de mostrar quem tem a língua mais afiada. E, claro, tudo isso com o pano de fundo de uma eleição que deveria, em teoria, ser sobre como melhorar a vida dos moçambicanos.
No entanto, o que essa troca de farpas realmente nos mostra? Que estamos assistindo a uma novela de alta produção, onde os protagonistas se esquecem que o palco é compartilhado com milhões de espectadores que esperam mais do que meras tiradas inteligentes. Comparando, parece que estamos em um daqueles reality shows onde os participantes fazem de tudo para chamar atenção e ganhar o prêmio final, que, neste caso, seria governar uma província ou até mesmo o país. Só que aqui, em vez de alianças estratégicas, temos piadas sobre salários atrasados e supostas falhas administrativas.
Mas talvez sejamos nós, o público, que estamos exigindo demais. Afinal, quem precisa de debates sérios sobre saúde, educação ou infraestruturas quando temos duas figuras públicas competindo para ver quem consegue ser mais sarcástico? Quem quer discutir planos de governo quando podemos rir das trocas de insultos velados e ataques directos? Talvez Mondlane e Araújo estejam apenas a nos dar o que queremos: um bom entretenimento, com doses generosas de ironia e eufemismos.
Enquanto isso, os problemas de Moçambique, esses sim, muito reais, permanecem sem solução. Mas não se preocupem, temos políticos que conseguem nos fazer rir. E, nos dias de hoje, talvez isso seja o suficiente para ganhar votos. Porque, como bem sabemos, um político que faz rir deve ser melhor do que aquele que faz pensar. (Bendito Nascimento)