INTEGRITY – MOÇAMBIQUE, 01 de Setembro de 2022 – A forma mais simples de chegar ao Botswana é pela África do Sul. A Air Botswana é a única companhia aérea que tem voos internacionais entre as capitais Joanesburgo e Gaborone. E assim foi. Sobrevoando o país até à capital, encontra-se um território plano, pouco povoado e sem mar. Parques nacionais, reservas, áreas de preservação e o deserto de Kalahari formam a sua superfície. Sujeito a secas que podem durar anos, a maior parte dos seus rios é temporária. Uma das excepções é o Rio Okavango, que tem as águas vindas de Angola.
A chuva é tão importante no país que a moeda nacional se chama “pula”, que significa “chuva” ou “bênção”. Ao chegar ao aeroporto, não foi exigido visto de entrada. Como visitante com origem na União Europeia, necessitei, apenas, de preencher um formulário. Porém, foi necessário obter antecipadamente o certificado internacional contra a febre-amarela. Ali mesmo, no aeroporto, troquei o dólar por pula – “Sempre que um homem sonha, o mundo pula e avança” (António Gedeão). E avancei para a aventura pelo país detentor de recordes mundiais, incluindo as maiorias salinas, o maior delta e ainda a fronteira mais curta do mundo.
Botswana é a democracia sobrevivente mais longa de África e desenvolveu-se desde a independência com uma economia estável e próspera. O país tem sido nomeado como sendo o de menor corrupção de África, pelo Fórum Económico Mundial. Ian Khama, o presidente, é filho do primeiro após a independência, Seretse Khama, que se apaixonou em Londres por Ruth Williams, que daria uma história de filme, digo eu. Devido ao controverso casamento inter-racial, os seus pais foram exilados no Reino Unido, por seis anos e o pai só pode retornar à sua terra natal, com Ruth, em 1956, depois de renunciar aos seus direitos tribais. Porém, seria mesmo primeiro-ministro e o primeiro presidente.
O compromisso entre o casal era muito sólido. Numa ocasião, quando Seretse percorria o país durante a fundação do seu partido, em que o carro em que viajavam quebrou, foi Ruth quem conseguiu consertá-lo.
– “Definitivamente casei-me com a mulher certa”, disse o líder africano na época. Para a minha viagem, o Consulado Geral de Portugal, em Joanesburgo, facilitou-me um contacto em Gaborone. Dos cerca de 200 cidadãos portugueses a residir no Botswana, esperava-me no aeroporto o José Manuel, que há anos viera da África do Sul trabalhar para uma agência de viagens. Fiquei em casa dele durante os dias de permanência, antes de partir para o Zimbábue.
A sua mulher é sul-africana. Nos longos anos na capital já se tinham acostumado aos hábitos alimentares locais. Aliás, algo estranho para um português não originário de África. Como entrada gastronómica, os meus anfitriões tentaram que eu consumisse insetos.
Mopane é uma receita que é preparada a partir de vermes e larvas fritas. Não apreciei, mas não dei parte fraca. Algo se seguiu mais comum para um ocidental, um prato de carne de cabra, muito popular ao que soube, sobretudo em celebrações, como aquele simpático encontro, regado por duas cervejas artesanais, a Bojalwa, que é obtida após a fermentação do sorgo, e a Tho ThoTho, que também é obtida a partir do sorgo, mas tem 80% de teor alcoólico e é uma dos mais fortes.
Perguntaram-me qual o meu apreço pelas duas. A primeira, mais suave, foi a minha resposta. De sobremesa, veio a patela, aliás, conta-se que qualquer doce parece ser comum entre o povo para acalmar o cansaço. Neste país, porém, pela experiência pessoal e com a amabilidade da diáspora portuguesa, não há cansaço possível que nos envolva. (DN)
Jorge Mangorrinha, professor universitário e pós-doutorado em turismo, faz um ensaio de memória através de fragmentos de viagem realizadas por ar, mar e terra e por olhares, leituras e conversas, entre o sonho que se fez realidade e a realidade que se fez sonho. Viagens fascinantes que são descritas pelo único português que até à data colocou em palavras imaginativas o que sente por todos os países do mundo. Uma série a ser linda, nas edições digitais do DN.
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