Cada um deles, representa uma parte dos moçambicanos que somos, portanto, uma amostra num universo eleitoral. E que valores como sociedade ainda preservamos para exigir dos candidatos?
A falta de integridade estende‐ se à muitos, embora seja vista nos outros. O agente de PT corrupto só existe porque há um automobilista que partilha dos mesmos valores. O professor, médico, enfermeiro, até o segurança da loja ou do banco vicia a bicha porque há quem o alicia.
A injustiça cometida na nossa presença, seja a nosso favor ou de outrem, tornou‐ nos coniventes. A indiferença à violação de Direitos Humanos, ao assédio, ao tráfico, aos raptos, às liberdades, à falta de atendimento médico, inclusive à costura de pautas com lâminas nas escolas, expande o horizonte sobre a nossa falta de integridade. À estas práticas, acrescenta‐ se o velho, e já com barba esbranquiçada, discurso sobre a partidarização do Estado, que embora alguns se façam de vítimas, é perpetuado por todos Partidos nos locais de influência.
Vende‐ se a podridão alheia em hasta pública, fazem da difamação e os ataques aos adversários, bandeira do manifesto eleitoral. Há os que exigem justiça eleitoral pelas destruições que em nome de demoracia ao longo do tempo o País foi alvo, outros, são vítimas do sistema que, quando lhes convém, pedra a pedra edificam os murros de exclusão, como se verificou na aprovação das regalias dos Deputados ou mesmo na legislação sobre os pacotes eleitorais. Existem também os que entoam o hino das lamentações, cujas melodias já cansam nossos ouvidos, se fazem de minúsculos, mas engordam os bolsos com a fatia que lhes cabe nos 260.000.000,00, e ainda assim, há quem mesmo com o tacho, manteve- se no silêncio, nenhum bicho de integridade lhe deu comichão para explicar as razões por detras de sua ausência.
Numa sociedade zelosa cada um desses candidatos lhe seria obrigado a apresentar um Projecto de Governação virado ao Estado, e não haveria tantos aplausos para mêmes. Mas como românticos que somos, aplaudimos efusivamente as danças e o parafraseado sobre Mariano Nhongo, numa clara demarcação em relação aos seus próximos. Mas não é apenas destes que se constrói a Nação, novos ventos sopram , e sem hesitar, apresenta‐ nos uma juventude sedenta de justiça eleitoral, que desafia os magnos da justiça moçambicana, mas dispara impropérios em todas as direções, quando a justiça veste outras cores.
Por outro lado, a pouco mais de 10 dias depois do arranque da campanha eleitoral, ainda escasseia um discurso de união e reconciliador, dando‐ se primazia às consequências que propriamente ao problema. Debater a corrupção, os paraísos fiscais, a promoção de cargos, o encarecimento dos concursos públicos, entre outros, não pode ser o cerne da situação. Todo esse discurso revela mais sobre o que temos pela frente, onde o menos mau, certamente sairá vencedor.
Uma propaganda sobre a união, reconciliação (despida de ataques de toda natureza, inclusive dos inimigos da paz), moralidade e integridade, seria um apelo à unidade nacional, com isso, promover o sentido de pertença e aglutinar gentes de todas as cores. Essa visão, mesmo que poética, apelaria a parte humana de todos, e juntos a reconstrução do País estaria bem encaminhada, uma visão poética que foi há dias defendida pelo Presidente Armando Emílio Guebuza em apoio a um dos candidato.
Não se destila veneno e ódio às hostes adversárias. O meu Candidato Poético apostaria no recrutamento dos seguidores dos outros candidatos, não na sua estigmatização. Pouco ajudam as marchas e as propagandas, quando se divulga para gente da mesma turma, e a satisfação deve mesmo ser pela busca do novo eleitorado (o indeciso e o apoiante do adversário).
Contudo, não se pode aterrar de paraquedas na Política. Trabalho é necessário e, acima da ambição de se mostrar há que trilhar os caminhos de auto afirmação. Quando jovens se aventuram à confeiteiros sem ingredientes, assiste‐ se à um baile de promessas que em nada abonam nomes dos seus candidatos. Com recurso ao emprego, como moeda de troca, desempregados aliciam outros da mesma condição. E com a mentira descancarada, falta‐ se a verdade numa plateia que ovaciona o candidato e lhe retira com isso, a necessidade de apresentar a proposta sobre a solução das mais básicas carências dessa gente.
Quando a integridade fica beliscada, num contexto normal, os candidatos trataríam de repor a veracidade dos factos, porém, se o que for avançado cheirar à verdade quanto a luva na mão do guarda redes, nenhum golo lhe pode imputar às luvas. Mesmo assim, aqui entre nós, nenhuma imagem sai comprometida, apesar de afeição pela caça do nome e moral alheia, nas investidas sobre as idades de uns e as supostas “gazetas” sobre os pagamentos de impostos, e em retaliação, projecta‐ se o “nomadismo” político do outro. Numa estratégia clara de colocar em causa a integridade dos adversários, os seguidores dessiminam essas informações, como se lhes sobrasse conduta para julgar.
Enquanto os dois gladiadores aparentemente mais activos monitoram- se uns aos outros bem como os movimentos dos demais, equipas trabalham e inundam redes sociais de informações domésticas dos candidatos adversários, ignorando por completo as questões pontuais de que o País se debate.
Pouco acredita‐ se nos estudos eleitorais e seus estudiosos. O mesmo se diz sobre estudos cujo objecto foi uma pauta parida no gabinete do DAP, órfã de cadernetas e muito menos de testes. Vezes há em que, os alunos dessas pautas não passam de simples nomes que os próprios donos partiram dessa para outra. Mas mesmo assim, sobra integridade para os gestores dessas escolas, que nos processos eleitorais são confiados à formadores e suas gentes, à MMV’s.
Na Democracia à moda Moçambicana não há mais vergonha que se sobrepõe aos nossos objectivos, mas também, nos sobra hipocrisia para explicar os fracassos.
Com isso, mesmo antes do início da partida, há quem reclama que o campo está inclinado a favor do adversário, no intervalo, quando não for o campo, será um outro condicionante, a bola, o árbitro, ou mesmo a segurança no recinto do espectáculo desportivo. O facto é que existirá sempre uma explicação para o mau resultado, sem nunca à fraqueza da sua estratégia estar associada.
Este é o País que o candidato vencedor no dia 09 de Outubro herdará, e pelos discursos, os valores moçambicanos (falta de integridade, imoralidade e outros) continuarão intactos. (Leonel Mucavele)