Uso indevido de recursos públicos
O relatório destaca que a primeira semana da campanha foi marcada por casos significativos de uso indevido de recursos públicos. Em diversas regiões, como Vilankulo (Inhambane) e Chiúre (Cabo Delgado), foi registrado que professores e enfermeiros participaram de eventos de campanha da FRELIMO durante suas horas de trabalho. Em Vilankulo, por exemplo, professores abandonaram as aulas para comparecer a actividades da FRELIMO, comprometendo o funcionamento das escolas locais. Similarmente, em Chiúre e Chókwè (Gaza), enfermeiros também foram vistos em eventos de campanha. Estes casos contrariam as normas eleitorais que proíbem o uso de bens e pessoal público para fins partidários.
Além do pessoal, o relatório menciona a utilização de viaturas e outros bens públicos em eventos da FRELIMO. Embora tenha sido observado também uso de recursos públicos por outros partidos, como a RENAMO e o MDM, a FRELIMO foi identificada como a que mais abusou desses recursos.
Violência e intimidação à imprensa
A liberdade de imprensa foi severamente afetada na primeira semana da campanha. O relatório documenta vários incidentes de violência e intimidação contra jornalistas. Em Angoche, o repórter Raisson João e o fotojornalista Ussene Mamur, da Rádio Comunitária Parapato, foram agredidos e tiveram seus equipamentos confiscados enquanto cobriam um evento da FRELIMO. A intervenção policial e a ação de simpatizantes foram identificadas como as causas dos ataques. Em Cabo Delgado, o repórter Rui Minja da TV Sucesso enfrentou ameaças e intimidações após relatar a intervenção da polícia em um evento do candidato Venâncio Mondlane.
Desigualdade na cobertura mediática
O relatório também revela uma desigualdade significativa na cobertura mediática da campanha. A FRELIMO recebeu a maior parte da atenção, com 57 peças de cobertura registradas, enquanto a RENAMO obteve 31, o MDM 32 e o PODEMOS apenas 14. Esta disparidade foi observada em diferentes meios de comunicação, incluindo rádio, televisão e jornais. Entre os 106 tempos de antena monitorados na Rádio Moçambique, apenas 3 foram exibidos conforme o alinhamento definido pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), iniciando-se um dia após o início oficial da campanha.
Desinformação e notícias falsas
A desinformação também foi um problema significativo na primeira semana da campanha. O relatório identificou várias notícias falsas que circularam amplamente. Uma das principais desinformações envolveu uma alegação falsa de que Graça Machel havia endossado o candidato Venâncio Mondlane. Outra notícia falsa era uma imagem de um paciente no Quénia, atribuída erroneamente a Ossufo Momade para justificar sua ausência. Além disso, circularam informações falsas sobre um comunicado da CNE pedindo desculpas à Aliança Democrática e a Venâncio Mondlane pela rejeição de sua candidatura.
Representação e inclusão
A representação de género e a inclusão também foram temas destacados no relatório. Apenas 13% das actividades de campanha foram lideradas por mulheres, reflectindo uma baixa participação feminina. Essa situação é atribuída em parte ao facto de que todos os candidatos presidenciais e a maioria dos candidatos a governador são homens. Além disso, as mulheres que lideraram actividades de campanha focaram principalmente em temas como a criação de empregos e o combate à violência de género. O relatório também destaca que, em 88% dos eventos observados, não havia acessibilidade adequada para pessoas com deficiência, revelando uma deficiência na inclusão de todos os grupos sociais nas actividades de campanha. (Bendito Nascimento)