Segundo Clodoaldo Castiano, Director do FAMOD, há uma percepção “negativa profundamente enraizada” sobre a capacidade das pessoas com deficiência em participarem da cadeia de valor agrícola, o que tem resultado na sua exclusão tanto em nível de políticas públicas quanto de programas de desenvolvimento rural.
“Ao final do dia, essas percepções equivocadas acabam sendo reflectidas nas próprias políticas, o que impede a inclusão das pessoas com deficiência”, afirmou Castiano.
Destacou também, que nem as políticas, estratégias ou programas, sejam do governo ou de parceiros de cooperação, estão recolhendo dados sobre a participação das pessoas com deficiência em projetos agrícolas, como o SUSTENTA por exemplo.
“Enquanto conseguimos dados sobre mulheres e jovens, ninguém está registrando como as pessoas com deficiência estão acessando esses programas. Isso é uma das barreiras sistêmicas que enfrentamos”, lamentou.
Castiano também frisou que a ausência de dados contribui para a perpetuação da ideia de que as pessoas com deficiência não podem ou não desejam participar da cadeia de valor agrícola, uma visão que considera completamente errada. “Existem muitas oportunidades na cadeia de valor agrícola que podem gerar rendimentos para essas pessoas. Infelizmente, não existem números porque simplesmente não estão sendo registrados”, enfatizou.
Em resposta, Olga Fatine, representante do Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural, reconheceu a importância da reflexão trazida pelo FAMOD, especialmente porque o ministério está em fase de revisão da estratégia de gênero no setor agrário e do plano de ação, para alinhá-los com a Estratégia 2030, ou seja, o Plano Estratégico para o Desenvolvimento Agrário (PESA II).
“A filosofia que norteia o ministério é de não deixar ninguém para trás. Estamos trabalhando intensamente para conscientizar sobre as particularidades e necessidades de cada grupo, conforme seu grau de vulnerabilidade”, afirmou Fatine. No entanto, admitiu que o PESA II não especificou metas para pessoas com deficiência, assumindo que estariam incluídas em outros grupos, como mulheres, jovens e homens, o que, segundo ela, pode resultar na exclusão inadvertida dessas pessoas.
“Agora estamos cientes dessa omissão e é nosso dever garantir que as pessoas com deficiência sejam efectivamente incluídas nos esforços para o desenvolvimento sustentável”, concluiu Olga Fatine.
A mesa redonda, organizada para discutir a inclusão de pessoas com deficiência na agricultura, sua cadeia de valor e finanças rurais, destacou a necessidade urgente de integrar essa população vulnerável nos projetos e programas que visam combater a pobreza no meio rural. (INTEGRITY)