Mas uma coisa é certa, cada um deles representa uma parte dos moçambicanos que somos. Há quem descreve e se revê no populismo e irreverência do Venâncio Mondlane, mas também há quem aprecia e exalta mais a acalmia e discurso de continuidade do Daniel Chapo. Outros simplesmente admiram o conformismo do Ossufo Momade, enquanto uma parte exalta o politicamente correcto do Lutero Simango.
Mesmo que se tenha em conta as ideias, escolha livre de uma das partes ainda é uma miragem, essa intolerância ainda causa “abortos”, a em alguns casos, “nados mortos” na nossa política, razão pela qual, os nomes que na lista figuram, não resultam de uma disputa de programas, e muitos tiveram que colocar os interesses deste grupo acima dos individuais, mesmo que nisso o Venâncio Mondlane seja uma excepção.
É certo que há necessidade de resgate de alguns valores. A imoralidade se instalou na sociedade, de tal modo que foi normalizada. A intolerância, o tribalismo, práticas que hoje são assumidas como estilo de vida e representam a semente do problema. A corrupção, de que tanto fala o candidato Daniel Chapo resulta da falta de compromisso com os valores de ética e moral, por isso, moralizar a sociedade pode ser meio caminho para reduzir a corrupção, condenando (judicial, criminal e socialmente) desde a grande à pequena corrupção, promover uma inversão social de valores nas escolas, igrejas, e em todos outros meios sociais. Por outro lado, Venâncio Mondlane, aspira reduzir os encargos financeiros do Estado, que também parece legítimo, porém, sonhar acima do real, seria uma utopia.
Numa visão utópica o candidato ideal seria aquele que, no espírito poético, reconheceria o que existe de bom e de melhor nos outros candidatos, despido da intolerância, porque as ideias não têm rostos, nem cores. Mas isso seria desejar muito para a nossa realidade.
Se calhar seja uma oportunidade para clamarmos por uma intervenção celestial, para aproximar-nos apesar das diferenças. É que pouco se vive Democracia neste país, muito por culpa da INTOLERÂNCIA, não se tolera que o outro goste de A enquanto nós nos identificamos com B.
Programas são desenhados acima de joelhos somente para inviabilizar os dos outros. Já houve de tudo, pancadarias entre simpatizantes dos partidos em Xai-Xai, trocas de mimos que em nada abonam Moçambique. Na Zambézia houve ameaças entre adversários políticos, e na Beira relatos de perseguições, até Tete já pariu vítimas de intolerância política. Na fase em que se aproxima, vive- se um verdadeiro caos, que sistematicamente resulta em perseguições em todo país, e, vezes sem conta, exclusões sociais. A cada eleição, enterra-se a já famigerada Democracia em Moçambicana. Não há vítimas nem opressores, há apenas uma sociedade educada a excluir os que pensam diferente de si.
Mas, engane-se quem pensa que o problema prende-se apenas na política. A intolerância verifica-se em todo lado. Em toda esfera social. Desde as preferências desportivas, artísticas, até ao simples detalhe, como a maneira de sorrir, por exemplo.
Mas o que preocupa é que até acadêmicos, aqueles de quem se espera uma acção diferente, nos incentiva a essas práticas. Pululam de televisões e rádios, usando o tempo de antena para “mal dizer” dos outros do que propriamente elevar gente de sua preferência. A busca pela audiência coloca de lado a censura, e nesses momentos, a imprensa presta um mau serviço à sociedade.
Enquanto isso, a Democracia custa-nos familiaridade, amizade, amor ao próximo, como se os 260.000.000,00 entregues a essa gente não fossem o bastante. Alguns destes beneficiários, pacientemente, sobrevivem de 5 em 5 anos à caça desses milhões. Os que conseguem outros tachos acumulam os benefícios e a soma resulta na arrogância típica, hoje disfarçada pela busca de apoio do eleitorado. E as instituições que gerem os processos, pouco fazem para torná-los credíveis. Não há confiança, mas essa realidade não é apenas para instituições eleitorais, estende- se a muitas outras instituições públicas.
Pouco acredita- se, por isso, na intolerância típica, até mesmo quando o que se comunica é real, dúvida-se. É caso para dizer, salve‐ se quem puder nos próximos 45 dias, a contar a partir das 00h00, e mais do que tuas cores partidárias, valorize mais a vida humana. Findos 45 dias, a campanha eleitoral termina, a vida volta à normalidade.
Consciência e Tolerância precisam‐ se!
Por: Leonel A. Mucavele
—