Embora braço-de-ferro nos remeta, à primeira, para aquele jogo em que dois adversários, colocados frente a frente, mantendo os cotovelos assentes numa superfície fixa e os braços flectidos e agarrando na mão um do outro, fazem força para que um deles perca o desafio ao bater com as costas da mão na superfície de apoio; braço-de-ferro tem também a acepção referente à uma pessoa que governa ou dirige com energia.
E, nesse verdadeiro duplo sentido, está a génese do problema que a muitos furta sossego. Quando ao invés de governar com energia, os governantes tomam sua força e investem-na no derrube daqueles que se lhes opõem e, pior ainda, ameaçam tirar-lhes o mel do elitismo.
Será que nos deveria surpreender o estado depravado deste nosso coração, este local de culto dedicado à egolatria? De maneira nenhuma! A natureza humana é testemunha inelutável de quão o poder corrompe e corrói; amarra e emaranha; endemoninhada e domina; inverte e perverte; desregula e estrangula. Faz com que o ser humano olhe para a sociedade como floresta e, para ele próprio, como o único leão macho na alcateia. E, como nos segredam os zoólogos, se um leão macho sentir que um dos seus filhos está a tornar-se demasiado poderoso e que um dia pode vir a ocupar o seu lugar, o macho simplesmente expulsa o jovem leão.
Assim também sucede aos bípedes felinos, perigosíssimos exactamente por serem irracionais por dentro, mas por fora usarem a maquilhagem da racionalidade. Exibem força bruta. Reprimem manifestantes. Banem canais televisivos que dão visibilidade aos seus oponentes, esses discípulos de Judas Iscariotes, que vendem seus mestres com o beijo da verdade. Levam jornalistas sérios à barra da justiça, enquanto engordam os patéticos com as guloseimas do ridículo, até rebentarem a balança geral de tanta gula pessoal. Compram cérebros versados em retórica para envenenar a opinião pública. Pior, usam e abusam da falta de instrução para fazer com que irmãos de sangue se vejam como inimigos mortais.
Isso tudo é Intolerância Política e, embora pareça de todo ruim, tem um lado positivo. Igual ao geólogo e mercador em joalheria que nos faz descobrir que onde estendemos a esteira, à sombra, é cheio de ouro; o intolerante mostra-nos pessoas preciosas, em quem podemos depositar voto de confiança de modo a melhorar nossa qualidade de vida. Estranhamente, irá-se com os amáveis. Mesmo o diabo – maior inimigo do bem – tem nos escolhido o seu maior alvo. O injusto odeia o justo, e é por causa daquele que devemos amar a este. O corrupto abomina o íntegro, e é pela repulsa do primeiro que temos de honrar o último. Louvados sejam os intolerantes políticos. É, afinal de contas, graças a eles que hoje conhecemos os que se sentem agraciados pela desgraça do povo. É também pela sua manifestação que reconhecemos aqueles que, apesar de todas as humilhações, continuam postos e dispostos a lutar pelo bem comum. Bem hajam!
Por: Angelino Macho