Ao que apuramos, no levantamento feito, estão para ser desmobilizados cerca de 80 trabalhadores entre nacionais e expatriados. No site do projecto de gás na península de Afungi e nos escritórios em Maputo ficara “pessoal essencial”.
Porém, a mesma fonte adianta que a TotalEnergies continuará a investir na componente socioeconómico, através de acções de formação de Cabo Delgado, bem como criação de negócios, com vista a criar oportunidades de trabalho decorrentes dos investimentos em curso, através de “parceiros de implementação”.
A TotalEnergies tem estado sob “grande pressão” para o reinício do Projecto do gás na área 1 da bacia do Rovuma, uma das maiores esperanças da elite política/ económica atrelada ao partido governamental.
Em 2021, depois do ataque a Palma, a empresa fez grandes despedimentos, mas, desde 2022, a forca de trabalho tem vindo a aumentar, incluindo a recontratação do pessoal dispensado em 2021.
Em maio passado, sem se comprometer com prazos, Patrick Pouyanné, o CEO da TotalEnergies, reconheceu “progressos positivos” para o reinício do projecto, avaliado em 23 mil milhões de dólares, o maior investimento privado em África. Opiniões credíveis apontam o primeiro trimestre de 2025 para o reinício dos trabalhos, período ainda refém das avaliações de risco sobre segurança e a libertação dos financiamentos.
O consórcio liderado pela TotalEnergies mobilizou o valor de USD 15,5 mil milhões junto de vários bancos e agências financeiras para a implementação do projecto de gás natural liquefeito (LNG) na bacia do Rovuma. O valor inclui componentes onshore e offshore, custos associados à construção de instalações a serem compartilhadas com o projecto adjacente da Área 4, e custos de financiamento.
US-EXIM estremece projecto
O empréstimo, onde o Banco africano de Desenvolvimento (BAD) participa com 400 milhões de dólares, compreende um conjunto de financiamentos directos vindos de agências de Créditos à exportação (ECA), como o US-EXIM, JBIC, UKEF, Thai EXIM, NEXI, SACE, ECIC, UKEF, Atradius e bancos comercias, incluído o Standard Bank.
Todos esses financiamentos precisam de ser reconfirmados depois dos acontecimentos relacionados com ataques a Palma, em março de 2021.
O desembolso da US-EXIM ainda não foi garantido, uma das razões de fundo, apurou o SAVANA, para atrasos no reinício do projecto. A agência norte-americana é responsável por cerca de cinco mil milhões no total do valor de investimento.
O desembolso foi aprovado pelo “board”, mas não tem as assinaturas finais devido ao período eleitoral nos EUA e as preocupações ambientais relativas a exploração de combustíveis fósseis. Fontes da empresa consideram que há uma “janela de oportunidade entre novembro e janeiro de 2025”, o período que decorre entre as eleições e a tomada de posse do novo Presidente.
Os estrategas da TotalEnergies consideram que a reconfirmação do financiamento do Exim Bank norte-americana fara cair as reticencias do fundo holandês e de bancos sediados na Grã-Bretanha, outros dos financiadores reticentes.
Na apresentação dos resultados da petrolífera, a 25 de julho, Pouyanné confirmou que “esta tudo acertado com os empreiteiros” para a retoma da construção, decorrendo negociações com os financiadores, reconhecendo o “progresso” na situação de segurança.
Eleições de Outubro
A presente ofensiva militar moçambicano-ruandesa poderá reforçar o sentimento de melhorias na situação de segurança, incluindo lado da ExxonMobil que vem igualmente aumentando os preparativos para o anúncio da decisão final de investimentos na área 4, na bacia do Rovuma.
“Como também sabem, em breve haverá eleições presidenciais (9 de outubro) em Moçambique.
E é claro que para nós, é importante ter a confirmação de que o novo presidente seguirá a mesma política em relação a estes grandes projectos. Ė neste ponto que estamos. Por isso, diria que, até ao final do ano, devemos esclarecer como podemos avançar”, assinalou o executivo da Total Energies.
Não se sabe ainda quais as reacções dos investimentos em Cabo delgado às declarações do candidato da Frelimo Daniel Chapo, em Nampula, no mês de julho, declarando publicamente que, eventualmente, gostaria de negociar os projectos do gás.
Em finais de abril de 2021, a petrolífera Total Energies anunciou motivos de “força maior” para ter retirado todo o pessoal do acampamento de Afungi, após o agravamento da situação de segurança, com o mediático ataque de 24 de março em Palma.
Foi a primeira vez que a petrolífera francesa recorreu ao conceito de ‘force majeure’ [Força Maior], usando em Direito para justificar o incumprimento de determinadas obrigações com factores externos.
Na altura, com a situação de segurança tremida na sequência de um incidente violento em Quitunda [a localidade onde estão reassentadas as famílias retidas do projecto de LNG], a 1 de janeiro de 2021 e o ataque a Palma, a petrolífera francesa organizou, em abril, uma “ponte aérea” e também um enorme ferry boat para retirar a maior parte dos seus trabalhadores do acampamento em Afungi, deixando no local apenas o pessoal ligado à segurança e pequenas manutenções.
Com a decisão final de investimentos (DFI), assegurada em julho de 2019, o projecto liderado pela TotalEnergies, caso retome, será o primeiro desenvolvido em terra (onshore), consistindo inicialmente de duas fábricas de transformação de GNL (gás natural liquefeito) com a capacidade nominal de 13,12 milhões de toneladas por ano (MTPA) para apoiar o desenvolvimento dos campos da área 1 de Golfinho/ Atum localizado no mar (offshore).
Na altura da decisão final de investimento, o projecto havia assegurado um total agregado de 11,1 MTPA de vendas de GNL a longo prazo (representando 85% da capacidade nominal da infraestrutura), sendo os principais compradores de GNL, oriundos da Ásia e Europa. (SAVANA)