Por: Bendito Nascimento
Reconciliação, por outro lado, vai além da mera coexistência pacífica. Envolve um processo ativo de enfrentar e superar as divisões e animosidades que surgiram durante períodos de conflito. Isso frequentemente exige um esforço consciente para tratar das injustiças passadas e reconhecer as feridas abertas.
No princípio do governo de Filipe Nyusi, em 2015, este afirmou “Podem ficar claros compatriotas, tudo farei para que em Moçambique já mais irmãos se voltem contra irmãos, seja a que pretexto seja”. E faltando quase cinco meses para o fim de seu governo, o Marido da Isaura afirma em voz viva que um dos seus grandes legados (total cinco) é a questão da PAZ E A RECONCILIAÇÃO. Significando que no dia 15 de janeiro de 2025, este, deixará o país em um estado extremamente bom, no que concerne à paz e à reconciliação.
Tendo em conta que a paz e reconciliação em Moçambique não é apenas um ponto exclusivo ao acordo de Desarmamento e Desmobilização dos Homens da RENAMO, a realidade mostrada na sociedade todos os dias, vistas na média e não só, pode de certa forma entrar em desacordo, com a narrativa do presidente que falava esta quarta-feira no parlamento em seu último informe como chefe de Estado. Casos como as greves associadas a vários assuntos, conflitos em Cabo Delgado, repressão a manifestações, corrupção e ilícitos eleitorais que leva a tumultos populares, raptos de empresários, jornalistas e os “contra regime”, violação de direitos humanos, são os que pintam um quadro diferente do presidente da República.
Ora vejamos:
Raptos
Durante o governo do Marido da Isaura, os raptos cresceram de forma abundante, tirando paz não só empresários (de origem asiática), ativistas e críticos do governo, mas também todos os cidadãos. Portanto, revelando uma discrepância significativa entre o legado propalado de Nyusi, e a realidade que o povo vive, como por exemplo na cidade de Maputo, onde os citadinos são brindados quase todas as semanas com casos de raptos. Apesar das declarações sobre progresso nas investigações feitas pelas autoridades, o aumento dos sequestros e desaparecimentos forçados demonstra falhas graves na proteção dos cidadãos e no combate ao crime.
Em Cabo Delgado, a situação é ainda mais alarmante. o aumento dos raptos vinculados ao conflito armado, com tanto insurgentes quanto forças de segurança envolvidos em sequestros de civis. Esses raptos não só intensificam a crise humanitária, mas também criam um clima de terror que afeta ainda mais a população deslocada e vulnerável.
Greves
Durante o governo de Filipe Nyusi, começado em 2015, Moçambique tem testemunhado uma série de greves e protestos que evidenciam um descontentamento profundo com as condições de trabalho, como os professores, profissionais de saúde, Médicos, as iminentes greves dos Juízes, Magistrados do Ministério Público, e vários cidadãos inconformados com as controversas eleições de 218, 2019 e de 2023, factores que contrastam fortemente com a imagem apregoada pelo Marido da Isaura, paz e reconciliação.
As greves têm sido um reflexo claro da insatisfação com salários baixos e condições de trabalho precárias e fraudes eleitorais. No setor educacional, por exemplo, professores em várias províncias têm realizado greves em busca de aumentos salariais, horas extras e melhores condições de trabalho.
Trabalhadores da saúde têm se manifestado contra a falta de equipamentos adequados, horas extras e o não pagamento de salários. Além das greves setoriais, movimentos populares (Os cadianos e companhia Lda.) e protestos urbanos têm surgido como uma resposta à crescente insatisfação com a administração do governo e gestão eleitoral. Portanto, demonstrando uma frustração mais ampla com a situação econômica e a falta de medidas eficazes para aliviar as dificuldades enfrentadas pela população moçambicana.
Conflitos em cabo Delgado
O conflito em Cabo Delgado é um exemplo flagrante da discrepância entre a narrativa oficial de paz e a realidade vivida por muitos moçambicanos durante o governo de Nyusi. A reconciliação e estabilidade nacional, a situação em Cabo Delgado destaca uma crise humanitária e de segurança que contrasta fortemente com essa narrativa.
Os ataques realizados pelos insurgentes têm sido marcados por extrema violência. os insurgentes têm perpetrado massacres em diversas aldeias, resultando em um grande número de mortes civis e na destruição de propriedades. Casas foram incendiadas, e muitos civis foram forçados a fugir de suas comunidades, criando uma crise humanitária sem precedentes. As operações militares conduzidas em Cabo Delgado, têm sido marcadas por alegações de abusos de direitos humanos, incluindo execuções extrajudiciais e ataques a civis por parte das forças de segurança (de acordo com relatos)
Liberdade de imprensa
Nos últimos anos, jornalistas têm enfrentado diversas formas de repressão e controle que minam a liberdade de imprensa, uma série de pressões e intimidações direcionadas a jornalistas que investigam ou reportam temas sensíveis. Essas pressões incluem ameaças diretas e tentativas de silenciar críticos, criando um ambiente de medo e autocensura entre os profissionais de média.
Casos específicos de repressão são notoriamente preocupantes, principalmente ano passado durante o período eleitoral com o caso da TV Sucesso para ilustrar.
Direitos Humanos
Embora o governo procure apresentar uma narrativa de progresso e estabilidade, a realidade enfrentada por muitas pessoas em Moçambique frequentemente reflete sérias violações e preocupações quanto ao cumprimento dos direitos humanos.
Durante o governo de Nyusi, diversos relatórios e investigações (por exemplo os do CDD) apontam para preocupações com a violação dos direitos humanos em várias áreas. casos de abuso e violência, incluindo a repressão a activistas, baleamento de manifestantes, intimidação policial. portanto, refletindo uma tendência preocupante de restrição à liberdade de expressão e de reunião, direitos essenciais para uma democracia funcional.
Repressão
Durante o governo do marido da Isaura, a repressão a manifestações tem sido um ponto crítico, expondo uma discrepância significativa entre a imagem oficial de respeito pelos direitos democráticos e a realidade enfrentada por cidadãos que buscam expressar suas opiniões e preocupações. Embora Filipe Nyusi se apresente como defensor da estabilidade e do progresso, na prática, muitos manifestantes e ativistas têm enfrentado uma repressão severa que compromete a liberdade de expressão e o direito de reunião.
Os relatos de repressão a manifestações durante o governo de Nyusi são numerosos e variados. a polícia respondeu a esses protestos com força excessiva, utilizando gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar os manifestantes, em situações que nem precisava, como a marcha em homenagem ao músico Azagaia.
As ações policiais criaram um clima de repressão, desencorajando a participação em futuros protestos e afetando a liberdade de expressão.
O impacto da repressão a manifestações é profundo e de longo alcance sendo, portanto, causador de um clima de medo que desestimula a participação cidadã e a expressão de opiniões críticas.
Chegados aqui, o que se pode dizer sobre o real legado do presidente Filipe Nyusi?