“Se a situação no leste da RDCongo e as suas repercussões afectarem o nosso território, estamos prontos a lutar”, disse [ontem] Kagame numa entrevista à televisão France 24.
O Presidente ruandês declarou também que têm lutado pelos seus direitos e pela sua existência, referindo-se à vitória da Frente Patriótica Ruandesa (RPF), criada em 1987 por tutsis no exílio e que conseguiu tomar o controlo do Ruanda em 1994, após uma ofensiva contra as autoridades ruandesas, controladas por extremistas hutus e responsáveis pelo genocídio perpetrado nesse mesmo ano.
Kagame acusou as autoridades congolesas de “perseguirem” e “assassinarem” membros da comunidade tutsi.
“Existe um discurso de ódio e uma ideologia genocida no leste da RDCongo”, explicou o líder ruandês.
Para o chefe de Estado ruandês, a RDCongo está a fugir dos seus problemas e dá apoio às Forças Democráticas de Libertação do Ruanda (FDLR), um grupo armado fundado e composto principalmente por hutus responsáveis pelo genocídio de 1994 no Ruanda, que matou cerca de 800.000 pessoas.
Frisou ainda que a RDCongo deve reagir a esta ameaça “da forma que considerar adequada”.
Kagame afirmou ainda que o Presidente congolês, Félix Tshisekedi, “foge dos seus próprios problemas e culpa os outros” e acrescentou que “os problemas na RDCongo devem ser compreendidos, também pela pessoa que lidera aquele país, que parece ter uma memória seletiva quando se trata de descrever o que está a acontecer lá”.
“Há 100.000 refugiados no Ruanda e continuam a chegar. A maior parte deles está cá há 20 anos e está associada a este problema. Perderam os seus bens, as suas terras e os seus familiares foram mortos no leste da RDCongo”, sublinhou.
Para Kagame, as acusações de que o Ruanda tem culpa do que se passa no leste da RDCongo são incompreensíveis.
“Temos de compreender o que é o Movimento 23 de Março (M23)”, que opera no leste da RDCongo, afirmou, antes de insistir que “o Ruanda não criou o M23”.
“Como é que se explica que tenhamos 100.000 refugiados, que haja pessoas perseguidas pela sua identidade no leste da RDCongo, e que agora queiram torná-las cidadãs ruandesas, quando elas são congolesas?”, questionou.
Por outro lado, sublinhou que sempre esteve “disposto” a encontrar-se com Tshisekedi para resolver a crise e disse que é o Presidente congolês “que impõe condições”.
“Nunca impus condições”, disse, ao mesmo tempo que afirmava que Kigali “tem sido muito clara” no seu apoio às iniciativas diplomáticas na região.
A entrevista de Kagame à France24 surge um dia depois de o Presidente do Ruanda ter sublinhado que Kigali “não é a causa” do conflito na RDCongo.
O M23 é um grupo rebelde constituído maioritariamente por tutsis congoleses e que opera principalmente na província de Kivu do Norte, no leste da RDCongo, país que faz fronteira com Angola. (LUSA/NM)