INTEGRITY – MOÇAMBIQUE, 24 de Agosto de 2022 – A República de Angola, banhada pelo oceano Atlântico, vai às eleições, com vista a escolher aquele que será o futuro Presidente de uma nação composta por mais de 30.810.000 de habitantes, segundo os dados actualizados pelo site Mundo Educação.
Estas eleições ocorrem numa altura em que uma parte do povo chora pela morte do presidente que mais tempo dirigiu o país, José Eduardo dos Santos, e a outra ri-se da situação.
Diante disso, verificam-se várias irregularidades no processo, dentre elas, estão os mais dois milhões de eleitores que já se encontram mortos, mas que constam dos cadernos eleitorais; incluindo, a propósito, a não fixação de listas eleitorais para que os eleitores saibam onde vão votar, a não credenciação de observadores e jornalistas independentes, as constantes ameaças à população que vai aderir ao apelo da UNITA e as lideranças contestadas da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) e da Presidente do Tribunal Constitucional de Angola, membro Sénior do Bureau político do MPLA.
A par desta situação, estão os eleitores angolanos na diáspora, cujo número estimava-se que fosse mais de 400 mil, mas foram recenseados 18 mil eleitores. Deste grupo, os angolanos residentes em Moçambique, Zâmbia e outros países da região e do mundo não irão exercer o seu dever cívico de escolher quem governará o povo mangolé, numa altura em que o país se encontra a braços com a pobreza que agudizou o país: como as calamidades naturais, a seca, a frenética guerra com a família dos Santos e outros problemas que desvalorizaram o Kwanza, a moeda nacional, colocando o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) a 0,581 (médio).
Por conta disso, a Integrity entrevistou os jornalistas Tony Fancy, da Rádio MFM-Luanda, e Hossi Sonjamba, do Epito Repórter, para perceber, junto deles, qual era a real situação de Angola, um dia antes do “Dia D”.
Para Tony Fancy, a situação em Angola era relativamente calma, uma vez que a campanha eleitoral decorreu num ambiente de muita disputa, principalmente devido à “bipolarização das massas entre os dois partidos”, estamos a falar do MPLA, de João Lourenço, e a UNITA, de Adalberto da Costa Júnior.
Segundo o nosso entrevistado, ainda pairam dúvidas sobre quem será o vencedor, uma vez que se espera que sejam eleições bastante renhidas, como as de 1992, entre os já falecidos presidentes das duas maiores forças políticas de Angola: José Eduardo dos Santos e Jonas Malheiro Savimbi, que tiveram de ir à segunda volta.
Para Hossi Sonjamba, a campanha eleitoral em Angola revelou que, nas eleições desta quarta-feira, não só o MPLA e a UNITA terão uma palavra a dizer; mas, também, a CASA CE, o Partido Humanista e PRS, uma vez que fizeram uma campanha que também movimentou as massas.
Para Hossi, o grande “player” deste processo tem sido a CNE, que não acreditou vários observadores e jornalistas, por ter centralizado o processo, num país cujas condições para deslocação de uma província para outra podem levar dois dias de estrada. Tony Fancy tem uma posição diferente, pois acredita que está tudo apostos para que os angolanos decidam quem será o “capitão” de Angola.
Na entrevista, questionamos sobre a possibilidade de violência pós-eleitoral, caso qualquer das partes ganhe ou perca. Eis que Hossi Sonjamba avançou que esta possibilidade poderá ocorrer, principalmente se a UNITA perder as eleições, uma vez que o seu discurso durante a campanha foi de quem iria vencer o escrutínio. Já, para o jornalista Tony Fancy, o MPLA, embora diga que deixaria o poder caso perdesse, “não está preparado para deixar o poder, uma vez que já se encontra no poder há mais de 40 anos”.
Contudo, a polícia, a Procuradoria e a CNE saíram ao público para “exortar” a população a não aderir ao voto, como se verificou nas últimas eleições na Zâmbia e em Moçambique, o que já é implementado na cidade da Beira, Quelimane, Nampula e outros locais há décadas, onde a oposição sempre vence.
Deste modo, a questão que fica a que todos esperam responder é: o que se espera depois do dia 24 de Agosto de 2022, num país onde os cidadãos vivem com a vontade de mudança e o medo do futuro? (Omardine Omar)