Segundo o Director Geral da Focus Fístula Moçambique, cirurgião e urologista Igor Vaz, disse que pretende com a formação reforçar a capacidade de recursos humanos de modo que as mulheres com fístulas complexas encontrem tratamento rápido e de qualidade.
“Este é o primeiro de muitos workshops que como Focus Fístula pretendemos organizar. Nós temos percorrido pelo país e pelo mundo a tratar fístulas e vimos que não vai ser possível atendermos a todas as necessidades. Começamos a organizar estes workshops para partilhar o conhecimento e experiências. O objectivo é formar. Temos uma dificuldade enorme em recursos humanos, de professores que consigam apoiar os clínicos e especialistas jovens que estão a trabalhar em zonas remotas. Por isso trouxemos alguns médicos das províncias e outros estão a participar com recurso a tecnologia. Eles conseguem acompanhar tudo, ouvem e colocam questões”, referiu o médico.
Segundo Igor Vaz, é preciso facilitar estas sessões para que os médicos mais experientes possam transmitir conhecimentos à nova geração de médicos e melhorar o acesso aos cuidados de saúde da mulher.
“Durante estes dias estes estudantes, muitos deles especialistas e que já operam doentes com fístula, vão interagir com vários especialistas. O Dr Sibone, por exemplo, vai falar das complicações do parto. Vai explicar o que acontece com o canal vaginal depois de um parto. A doente pode não ter uma fístula, mas pode ter incontinência urinária, pode ter incontinência fecal, pode perder o controle de gases. Por vezes a mulher fica com dores durante a actividade sexual, ou perde o prazer sexual porque os músculos da vagina ficam todos rasgados. São várias situações que estamos a tratar neste workshop da fístula e de outros traumas que decorrem do parto que podem e devem ser tratados. Queremos contribuir para melhorar a saúde da mulher e a formação é importante para que possamos conseguir”, disse Igor Vaz.
Zélia Cristina é médica cirurgiã geral baseada no Hospital Central da Beira (HCB). Diz ser uma mais-valia participar da formação para melhorar os seus conhecimentos e técnicas para tratar fístulas.
“Esta formação é importante, pois ao nível do país nós temos muitas mulheres padecendo de fístula. Nós tratamos das fístulas simples, mas quando são complexas recorremos ao professor Igor Vaz. Participando destas formações vamos aprendendo sobre como tratar de casos de fístulas mais complexas. É sempre uma mais-valia pois sempre tem alguma coisa nova para aprender”.
A médica fala do tratamento, mas indica a prevenção como sendo o melhor caminho.
“Nós fazemos palestras nas comunidades e explicamos que a fístula tem tratamento. Mas o mais importante é a prevenção. As mulheres devem recorrer às unidades sanitárias para fazer consultas pré-natal e para ter parto seguro. Existem mulheres que têm um alto risco obstétrico e isso só é possível diagnosticar durante as consultas”, disse Zélia.
Outro participante no workshop é Amâncio Oliveira Urologista no Hospital Central de Maputo (HCM) que apontou que há casos de fístula no campo e nas cidades.
“Viemos aqui para renovar os nossos conhecimentos, aprender novas técnicas e ganhar mais experiência na área de fístula” disse, acrescentado que “nós temos muitas fístulas na província e cidade de Maputo. Elas resultam de cuidados obstétricos que não chegam para todos. Muitas mulheres não têm acesso a ginecologista para acompanhar a gravidez e acabam tendo um parto difícil. Temos fístulas em todo o país. Não é um problema apenas do campo, mesmo nas cidades também temos fístulas”.
Em Moçambique os dados apontam para a existência de mais de 2.500 novos casos de fístula obstétrica por ano. Apesar dos esforços para se eliminar a doença, a fraca qualidade dos cuidados pré-natais continua a impedir o progresso nos cuidados obstétricos de emergência, na identificação das complicações obstétricas com trabalho de parto prolongado e obstruído, na disponibilidade de parto por cesariana e na decisão de referência à cuidados especializados. Em paralelo, os hospitais provinciais e distritais com capacidade para cirurgia, carecem de recursos humanos especializados e suficientes para realizar a cirurgia, bem como para prestar cuidados pré e pós cirúrgicos.